Uma numerosa multidão de homens santos lhe demonstrara sempre a mais elevada consideração. Dele se valeram como arma potentíssima para afugentar o demônio, manter-se íntegros e praticar mais facilmente a virtude.
T emos afirmado várias vezes, e recentemente repetimos na Encíclica Divini Redemptoris, que o único remédio para os males cada vez mais graves de nosso tempo é o retorno a Cristo e aos seus santíssimos preceitos. De fato, só Ele “tem palavras de vida eterna” (Jo 6, 68), e nem os indivíduos nem a sociedade podem fazer coisa alguma que não decaia rápida e miseravelmente, se deixarem de lado a majestade de Deus e repudiarem sua Lei.
Deus quer que consigamos tudo por meio de Maria
Contudo, quem estudar com diligência os anais da Igreja Católica verá facilmente o valioso patrocínio da Virgem Mãe de Deus ligado a todos os fastos do nome cristão. Com efeito, quando os erros se difundiam por toda parte e tentavam obstinadamente rasgar a túnica inconsútil da Igreja e subverter o orbe católico, nossos pais recorreram cheios de confiança Àquela que “sozinha destruiu todas as heresias”,[1] e a vitória por Ela conquistada trouxe tempos mais serenos. […]
Embora, Veneráveis Irmãos, males grandes e numerosos nos ameacem agora, e tenhamos a temer maiores ainda no futuro, não podemos perder o ânimo nem deixar esmorecer nossa firme esperança que só em Deus se apoia. Ele, que criou sadios os povos e as nações (cf. Sb 1, 4), por certo não deixará perecer aqueles que redimiu com seu precioso Sangue, nem abandonará sua Igreja. Pelo contrário, como acima recordamos, interponhamos perante Deus a mediação da Bem-aventurada Virgem Maria, tão agradável a Ele, pois, conforme as palavras de São Bernardo, “tal é a vontade d’Aquele que quer que consigamos tudo por meio de Maria”.[2]
Coroa composta por santas e admiráveis orações
Entre as várias súplicas com as quais recorremos com proveito à Virgem Mãe de Deus, o Santo Rosário ocupa sem dúvida posto de especial destaque.
Esta oração — que alguns denominam “Saltério da Virgem”, ou “Breviário do Evangelho e da vida cristã” — é descrita e recomendada por nosso Predecessor Leão XIII nestes vigorosos termos: “Bem admirável é esta coroa na qual se intercalam a Saudação Angélica e a Oração Dominical, unidas à meditação interior; é uma excelente maneira de rezar e utilíssima para obter a vida imortal”.[3] E isto bem se deduz das próprias flores que formam esta mística guirlanda. De fato, que orações podem ser mais apropriadas e santas?
A primeira delas foi pronunciada pelo próprio Divino Redentor quando os discípulos Lhe pediram: “Senhor, ensina-nos a rezar” (Lc 11, 1). Esta santíssima súplica, assim como nos oferece o modo de glorificar a Deus tanto quanto nos seja possível, considera também todas as nossas necessidades de corpo e de alma. Como pode o Eterno Pai, invocado com as palavras de seu próprio Filho, não acorrer em nosso auxílio?
A outra oração é a Saudação Angélica, que se inicia com o elogio do Arcanjo Gabriel e o de Santa Isabel, e termina com a piedosíssima súplica pela qual pedimos a ajuda da Bem-aventurada Virgem agora e na hora de nossa morte.
A piedade e o amor exprimem sempre algo de novo
A estas invocações feitas de viva voz se acrescenta a contemplação dos Santos Mistérios, pela qual os gáudios, as dores e os triunfos de Jesus Cristo e de sua Mãe são quase postos ante nossos olhos, de tal modo que deles recebamos alívio e conforto em nossos sofrimentos. Assim, seguindo estes santíssimos exemplos por degraus de virtude cada vez mais elevados, subamos à felicidade da Pátria celeste.
Esta prática de piedade, Veneráveis Irmãos, difundida admiravelmente por São Domingos, não sem altíssimo conselho e inspiração da Virgem Mãe de Deus, é sem dúvida fácil a todos, inclusive às pessoas simples e incultas. Mas quanto se afastam do caminho da verdade aqueles que reputam tal devoção uma fastidiosa e monótona cantilena, e a rejeitam como coisa boa só para crianças e velhas!
Note-se a tal propósito que tanto a piedade quanto o amor, repetindo embora muitas e muitas vezes as mesmas palavras, não dizem sempre a mesma coisa, mas exprimem sempre algo de novo que jorra do íntimo sentimento de caridade. Ademais, este modo de orar tem o perfume da singeleza evangélica e requer a humildade de espírito, sem a qual, como ensina o Divino Redentor, é impossível alcançar o Reino celestial: “Em verdade vos digo: se não vos transformardes e vos tornardes como criancinhas, não entrareis no Reino dos Céus” (Mt 18, 3).
Entretanto, se, movido pela soberba, nosso século se mofa do Rosário e o rejeita, uma numerosa multidão de homens santos de todas as idades e condições lhe demonstraram sempre a mais elevada consideração e dele se valeram a todo momento como arma potentíssima para afugentar o demônio, manter-se íntegro, praticar mais facilmente a virtude, numa palavra, obter para os homens a verdadeira paz. […]
Empenhai-vos sempre mais em propagar esta piedosa prática
Além de ser poderosíssima arma para vencer os inimigos de Deus e da Religião, o Rosário de Maria é também eficaz estímulo para a prática das virtudes evangélicas que ele insinua e cultiva em nossas almas. Antes de tudo, nutre a Fé católica, a qual refloresce propriamente com a meditação dos Sagrados Mistérios, e eleva a mente às verdades reveladas por Deus. E todos podem compreender o quanto isso é salutar, sobretudo em nossa época, na qual por vezes se nota até entre os fiéis certo fastio pelas coisas do espírito e enfado pela doutrina cristã.
Reanima, ademais, a esperança de alcançar os bens imortais, enquanto o triunfo de Jesus Cristo e de sua Mãe, por nós meditado na última parte do Rosário, nos apresenta o Céu aberto e nos convida à conquista da Pátria eterna. Assim, ao mesmo tempo em que penetrou no coração dos mortais uma desenfreada ânsia das coisas terrenas, e os homens ambicionam cada vez mais as riquezas perecíveis e os prazeres efêmeros, sentimos todos um eficaz desejo dos bens imperecíveis e dos tesouros celestiais que “o ladrão não rouba e a traça não destrói” (Lc 12, 33).
E a caridade, enlanguescida e entibiada em muitos fiéis, como não se reacenderá por força do amor na alma daqueles que, com dor no coração, recordam os tormentos ou a morte de nosso Redentor e as aflições de sua Mãe dolorosa? Deste amor a Deus é impossível não jorrar um amor mais intenso ao próximo, fruto da meditação atenta das dores e fadigas que Nosso Senhor sofreu para reintegrar na perdida herança todos os filhos de Deus.
Portanto, Veneráveis Irmãos, empenhai-vos de todo coração em que esta tão frutuosa prática se propague sempre mais, seja muito estimada por todos e incremente a piedade comum. ◊
Excertos de: PIO XI.
Ingravescentibus malis, 29/9/1937
Notas
[1] BREVIÁRIO ROMANO.
[2] SÃO BERNARDO DE CLARAVAL. In nativitas Beatæ Mariæ Virginis, n.7.
[3] LEÃO XIII. Diuturni Temporis, n.3, 5/9/1898.
Como é bom rezar o terço!
Faz bem para nossa alma. Nos faz viajar na santidade de Maria e na vida pública de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Nos deixa leve e em paz.