Pela perspectiva da História, as aparições de Nossa Senhora de Guadalupe se delineiam como o primeiro grande sinal de Deus para um continente chamado a ter um futuro grandioso, quando ele ainda se despertava para as verdades da Fé.
Com quantos mistérios e “milagres” nos deparamos na contemplação da natureza! E como eles patenteiam a limitação da humana ciência, fazendo com que nos reconheçamos contingentes!
No magistral e quase infinito livro do universo é possível ler, a cada dia, toda espécie de sinais, lições e segredos. Entretanto raramente o homem de hoje se pergunta quem foi o “Gênio” que concebeu e executou uma obra tão perfeita e grandiosa.
E as leis que regem a ordem do universo continuam a desempenhar o seu labor de serviço à vida, ainda quando não são reconhecidos os direitos do seu Artífice… A terra prossegue sua peregrinação em relação ao sol, numa cadência que marca para o homem os dias e os anos; a vegetação está sempre a crescer e produzir seus frutos; felinos, aves, peixes e demais animais são compelidos a seguir seus instintos, sem nada omitir ou mudar…
Milhares de exemplos de toda ordem poderiam ser dados. Em vista deles, alguns pensariam em estranhas “coincidências” que nos permitem existir… Mas se tudo fosse resultado do “acaso”, ao vermos a perfeição do universo não deveria o “acaso” ser proclamado “deus” ou, pelo menos, o maior “gênio” da História?
Sinais da vontade de Deus
Sem dúvida é possível perceber nos sinais da natureza a mão de seu Divino Autor. Há algo, porém, ainda mais importante. Deus nos criou por bondade e deseja manifestá-la aos homens por meio de “sinais dos tempos” (Mt 16, 4). Reservou para isso belíssimas páginas da História, nas quais supera seus “milagres” naturais pela operação de milagres sobrenaturais, que permitem ao homem perscrutar e discernir a vontade divina.
O que são as Sagradas Escrituras senão uma imensa coleção de amostras deste modo de agir? Quantos episódios elas nos trazem da intervenção de Deus em acontecimentos portentosos! Milagres no mar, na natureza animal e vegetal, no corpo humano, como curas e ressurreições; milagres presenciados por multidões ou efetuados na solidão… Todos eles são sinais do Alto, que encontraram a sua plenitude em Jesus Cristo, de quem brotou uma fonte inesgotável de provas do amor divino: a Santa Igreja Católica, arca dos sinais da Nova Aliança de Deus com a humanidade.
É por meio dessa sagrada e imortal perspectiva que convido o leitor a contemplar o primeiro grande sinal dado por Deus para o continente americano, quando, nimbado de promessas, ele começava a se abrir à ação evangelizadora da Igreja: as aparições de Nossa Senhora de Guadalupe.
A Fé, a História e a própria ciência nos ajudarão a penetrar nos ricos significados deste sinal dos tempos, através do qual Maria Santíssima nos revela aspectos maravilhosos e até então incógnitos de sua maternal misericórdia.
Sentimentos opostos face ao Novo Mundo
Mal começava o século XVI, e a Igreja sofria feridas dolorosas no Velho Continente. A heresia luterana rompera a unidade da Fé nos reinos germânicos, arrastando detrás de si grande número de adeptos. A Inglaterra capitulava aos anseios de Henrique VIII, o qual passou a ter o controle da Igreja, dispensando o Papa. Zwinglio dava continuidade, na Suíça, às ideias luteranas. Na França, Calvino iniciava semelhante intento de sedição religiosa… Desenvolvia-se a primeira etapa de um longo processo de desagregação do Corpo Místico de Cristo, face à qual o Concílio de Trento reagiu usando meios inusitados em toda a vida pastoral e teológica da Igreja.
No Novo Continente, além-mar, as descobertas de Colombo, ampliadas por contínuas expedições marítimas, despertavam em muitos corações dois sentimentos opostos: a esperança e a perplexidade. Esperança diante de um mundo desconhecido e promissor que se abria para o Reino de Deus; perplexidade perante a realidade do tipo humano indígena, o mais das vezes entregue a uma vida selvagem, por incontáveis gerações, capaz de familiarizar-se com atrocidades inomináveis.
A idolatria reinava entre os ameríndios, e não uma qualquer! A exacerbação do ódio, da vingança e da rivalidade disseminava-se nas mentes e externava-se em totens e divindades famintas de sacrifícios humanos. Somava-se a isso a devassidão moral, o roubo, a guerra ininterrupta e outras tantas tendências que fazem pensar: quem era personificado nos ídolos pré-colombianos? Quem lucrava à raiz de tais desvios? Tamanha rede de crenças sanguinolentas e antropofágicas, estendida pelas vastidões americanas, poderia ser comparada a um grande corpo idolátrico que alimentava seus membros com excessos pecaminosos.1
Não é de se admirar, portanto, que um conceituado escritor mexicano tenha resumido a triste situação religiosa e social de seu país nesta curta frase, que poderia retratar o drama do continente americano: “Um inferno, e não outra coisa, era o país habitado por nossos antepassados”.2
Chegada dos espanhóis ao México
Um quadro pintado com tais tonalidades foi o que encontraram os espanhóis que, no dia 22 de abril de 1519, desembarcaram no território do Império Mexica ou Império Asteca, cuja capital era a imponente cidade de Mexihco-Tenochtitlán, na época com “cerca de duzentos e cinquenta mil habitantes”.3
O comandante da expedição, Hernán Cortés, fizera toda a sua tropa recitar o Terço de joelhos na areia da praia de São João de Ulúa, pois nutria grande devoção a Nossa Senhora, como o atesta o fato de sempre avançar sob os auspícios de um belo estandarte que ostentava a Santíssima Virgem Maria de mãos postas, cabeça coroada, aureolada por doze estrelas, vestida com uma túnica avermelhada e um manto azul.
O desembarque dos homens brancos no litoral mexicano – trajados de negro naquela ocasião por ser Sexta-Feira Santa – foi associado imediatamente ao cumprimento de certas profecias legadas pelos ancestrais dos nativos, as quais anunciavam o retorno de Quetzalcóatl, um deus que em tempos remotos partira mar afora, prometendo voltar para assumir o reino.
Muitas eram as coincidências desta tradição com a chegada dos espanhóis: suas misteriosas “casas flutuantes” aportaram justamente no dia em que os astecas comemoravam a festa de Quetzalcóatl, que também se vestia de negro e não aceitava servir-se de carne humana. Por isso os desbravadores foram recebidos como verdadeiros embaixadores daquela divindade, mais por medo que por reverência.
Abre-se uma nova etapa da História
Passado algum tempo, porém, circunstâncias imprevistas reverteram a situação… Da noite para o dia os astecas tornaram-se hostis, obrigando os espanhóis a recuarem para as cidades indígenas aliadas, onde se recuperaram do golpe e tentaram equilibrar a desproporção numérica dos contendores.
Naquela conjuntura, uma “arma” desconhecida pelos astecas e tida por eles como a vingança de Quetzalcóatl atacou fortuitamente a Cidade do México: uma epidemia de varíola dizimou sem piedade a população, poupando apenas certa minoria que ficou mais morta do que viva. Os espanhóis aproveitaram a ocasião para cercar a imensa capital, ajudados pelas tribos amigas, e conseguiram tomar a cidade, dois anos depois de terem pisado pela primeira vez em território asteca. Travou-se um grande entrechoque que veio encerrar a história do império e consolidar a nova etapa que se abria: a união do europeu com o nativo americano.
A Igreja não podia permanecer alheia ao bem das almas. Encetou, pois, a difícil missão de catequizar um povo selvagem, tão rude que houve quem chegasse a questionar a existência da alma nos ameríndios… Na distante capital da Cristandade, o Santo Padre não cessava de advertir sobre a urgente necessidade de levar à pia batismal esses “pobres, aleijados, cegos e coxos” (Lc 14, 21) da parábola evangélica, chamados pelo Senhor ao Banquete da Fé em lugar dos convidados que o recusavam (cf. Lc 14, 16-24).
Dezenas de missionários, pertencentes sobretudo às ordens religiosas, lançaram-se a um empreendimento mais árduo que o de dominar pela força das armas: conquistar para Cristo o coração dos indígenas. Contudo eles não estavam sozinhos… Como adiante se verá, a própria Mãe de Deus assumira para Si esta tarefa! E a primeira intervenção visível d’Ela, reconhecida pela Igreja, foi precisamente a aparição de Guadalupe.
Uma resplandecente Donzela
Cuauhtlatoatzin – Águia que fala, em língua náhuatl – era o nome de um indígena nascido em 1474, na cidade de Cuauhtitlán, aliada dos espanhóis na luta contra os astecas e localizada a vinte quilômetros da capital. Casara-se ele com uma nativa de nome Malintzin e, em 1524, com o Santo Batismo recebera o nome cristão de João Diego, e ela, o de Maria Lúcia. Contava cinquenta e sete anos, e era já viúvo, quando se deu o grande acontecimento de sua vida, na aurora de um sábado, dia 9 de dezembro de 1531.
Caminhava pressuroso rumo à Cidade do México para instruir-se na doutrina católica e assistir à Santa Missa, quando, ao passar pelo cerro Tepeyac, ouviu belos cantos de pássaros, como prelúdio de uma voz arrebatadora que o chamava com ternura: “Juanito, Juan Dieguito!”4 Longe de ter medo e procurar esconder-se, sentiu seu inocente coração transbordar de alegria e subiu ao alto do outeiro à procura da origem daquela voz.
Relata o Nican Mopohua5 que ele se deparou com uma Donzela resplandecente como o sol, em pé sobre rochedos reluzentes quais joias preciosas. A terra apresentava as cores do arco-íris e na vegetação brilhavam as tonalidades do jade, do ouro e da turquesa. Era a Virgem Mãe de Deus que chamava para junto de Si seu humilde servo, a fim de incumbi-lo da missão de comunicar ao Bispo do México seu desejo de que naquele local fosse construída uma “casinha sagrada”,6 pois ali desejava erigir um pedestal para glorificar seu diletíssimo Filho.
Frei Zumárraga exige um sinal
João Diego compareceu diante de Frei João de Zumárraga, sacerdote franciscano que já fora nomeado Bispo, apesar de ainda não haver recebido a ordenação episcopal, ao qual expôs tudo quanto Nossa Senhora lhe revelara. O prelado nem lhe deu atenção naquele dia…
Desolado, retornou ele ao Tepeyac, para manifestar à Mãe Celestial sua incapacidade de desempenhar a missão que Ela lhe confiara. Não obstante, a Santíssima Virgem o encorajou a voltar à presença do Bispo e apresentar-lhe novamente o pedido do Céu.
No dia seguinte, domingo, João Diego transmitiu mais uma vez a Frei Zumárraga a mensagem. Este ficou impressionado com a insistência, a coerência e os detalhes do relato das aparições, mas não se deixou convencer: exigiu um sinal para lhe confirmar a autenticidade. O enviado de Maria assentiu sem dificuldade e lhe perguntou o que desejava. Um tanto inseguro diante da tranquilidade do indígena, Frei Zumárraga o despediu sumariamente.
João Diego regressou ao Tepeyac e comunicou à Senhora a exigência da autoridade eclesiástica. Ela lhe respondeu:
— Muito bem, meu filhinho. Retornarás amanhã à cidade para levar ao Bispo o sinal solicitado. Estarei aqui à tua espera.
Duas missões que se complementam
Ao entrar em casa, João Diego encontrou seu tio João Bernardino mal à morte, atacado de súbita doença, e passou o dia inteiro cuidando do único parente que lhe restava e que o protegera desde pequeno, fazendo as vezes dos seus falecidos pais. Entretanto, todos os esforços para levá-lo a recuperar a saúde mostravam-se inúteis. Na madrugada de terça-feira partia em busca de um sacerdote que lhe administrasse os últimos Sacramentos.
Duas missões bastante diferentes marcavam a viagem: colher o sinal celeste de uma história que se iniciava e socorrer em seus derradeiros momentos um homem que agonizava. Por este prisma, João Bernardino bem poderia personificar um continente que fenecia nas trevas do pecado, sem meios humanos de salvação, mas ao qual estava sendo dado, com o luminoso auxílio da Virgem Santíssima, um sinal para salvar-se, com vistas a um futuro marcado pela fé!
A caminho da cidade, João Diego evitou passar pelo local onde três vezes encontrara Nossa Senhora, receoso de não ter tempo suficiente para executar as duas tarefas. Tomou um atalho, decidido a subir ao Tepeyac somente à tarde. Perturbado pela dor e pelo drama, nem pensou na ideia de pedir-Lhe um milagre…
Ela, todavia, conhecendo os desvios da vida humana, apareceu-lhe no trajeto, perguntando aonde se dirigia. João Diego caiu de joelhos, cumprimentou-A carinhosamente e expôs-Lhe a amarga situação que o estava impedindo de cumprir o celestial desígnio, ao que replicou a bondosa Dama:
— Ouve e grava em teu coração, ó menor de meus filhos: que nada te assuste nem te aflija; não se perturbe o teu coração; não temas esta nem qualquer outra enfermidade ou angústia. Não estou Eu aqui, tua Mãe? Não estás sob minha proteção? Não sou Eu a fonte de tua alegria? Não repousas feliz em meus braços? Tens acaso necessidade de alguma coisa mais? Não te aflijas pela doença de teu tio, ele não morrerá. Não duvides de que ele já está curado.
Milagres ricos em significado
Naquele instante – como depois se soube –, Ela apareceu também a seu tio e o curou. Mandou então João Diego ir colher no alto do cerro várias flores que ali encontraria e trazê-las à sua presença. Lá chegando, viu estupefato grande variedade de perfumadas rosas de Castela, fora de tempo; apressou-se a colhê-las, as envolveu em sua rústica tilma7 e as levou a Nossa Senhora. Esta as recolocou ordenadamente no manto do bom índio, que logo partiu para entregá-las ao Bispo.
Após longa espera, foi enfim recebido por Frei Zumárraga. Pôde então relatar todo o sucedido e dar-lhe o sinal enviado por Maria. Abriu a tilma, da qual caíram rosas em profusão e floresceu um milagre mais estupendo: mãos invisíveis haviam estampado nela a imagem da Santíssima Virgem, tal como Se apresentou naquele dia no Tepeyac e pode ser hoje venerada na Basílica de Guadalupe.
João Bernardino aguardava em casa o retorno de João Diego, para contar que a esplendorosa Senhora aparecera também a ele, trazendo-lhe a tão almejada cura e revelando o nome pelo qual desejava ser venerada: “A perfeita Virgem Santa Maria de Guadalupe”.8
Produziam-se, assim, dois milagres complementares e muito ricos em significado. Naquele contexto histórico, o restabelecimento da saúde do venerável ancião representava a cura da humanidade e uma radical mudança na história do continente. A imagem miraculosamente estampada na tilma indicava que Maria entrava de corpo inteiro, de forma mística, na evangelização das Américas, merecendo ser proclamada pelos Papas, já em pleno século XX, Imperatriz e Padroeira deste Novo Continente.9
Sinal de aliança perene com seu povo
Notável é o fato de ter sido dado o sinal apenas na última aparição, como também ocorreria séculos mais tarde em Fátima. E não se trata só de um milagre para confirmar circunstâncias momentâneas. A imagem da Virgem, gravada num áspero e frágil tecido, haveria de permanecer incólume com o decorrer do tempo, evocando as características da Mulher descrita no Apocalipse (cf. Ap 12, 1-2) e prometida, ainda no Paraíso, à humanidade pecadora (cf. Gn 3, 15).
Ao olhar para a tilma guadalupana nos lembramos do Santo Sudário de Turim, semelhante a ela quanto à inexplicável gravação da imagem nos tecidos, como também quanto à sua conservação no decurso dos séculos, servindo de estímulo permanente para a fé daqueles que os contemplam.
A veneradíssima imagem de Guadalupe é, contudo, um sinal crivado de outros sinais. O tecido da tilma é feito de uma fibra vegetal chamada ixtle, que se desfaz em menos de vinte anos. Fiéis réplicas confeccionadas com o mesmo tipo de tecido não duraram sequer uma década… Ora, aquela tilma se mantém inalterada há quase cinco séculos, apesar de ter permanecido sem vidro de proteção durante mais de cem anos, num ambiente úmido e salitroso, exposta à fumaça e ao calor de milhares de velas.
A este sinal da perene aliança estabelecida por Nossa Senhora com seu povo se acrescentam dois outros fatos miraculosos: em 1785 foi derramado sobre a borda do manto, acidentalmente, um líquido corrosivo que tão só manchou as fibras, sem nada destruir. E em 1921 explodiu aos pés da imagem uma bomba que arrebentou vitrais, retorceu castiçais e um crucifixo de bronze, afetando inclusive casas vizinhas, mas o tecido permaneceu intacto!10
A própria existência da imagem gravada na tilma é um portento contínuo, sinal da permanência de Nossa Senhora entre os seus filhos. Segundo estudos realizados por técnicos altamente especializados, “não se encontravam nas fibras elementos corantes conhecidos […]. Não existem corantes de tipo mineral, nem vegetal, nem animal; poderíamos dizer que é uma pintura sem tinta […]. Estaríamos então face a uma aparição contínua da Santíssima Virgem”.11
União entre o Céu e a terra
As estrelas do manto e os arabescos do vestido não são simples adornos. Segundo Mons. Eduardo Chávez Sánchez, um dos maiores especialistas no tema, trata-se de um verdadeiro “códice” de sinais que os índios sabiam ler.
O manto azul representa o céu, e as quarenta e seis estrelas nele estampadas “coincidem surpreendentemente com as constelações do céu no dia 12 de dezembro de 1531”.12 A tonalidade rosa-aurora da túnica e as flores que a enfeitam evocam a terra ao nascer do sol. Os estampados do vestido, cuja folha principal lembra o formato do coração e cujos galhos assemelham-se a veias enraizadas no manto, configuram um corpo de corações voltados para o alto que, estando na terra, recebem o sangue do Céu.13
Na túnica da Mãe de Deus, à altura do ventre, vê-se um jasmim de quatro pétalas. Os astecas o denominavam nahui ollin, que significa plenitude. A presença deste símbolo, unido à cinta escura que cinge a túnica da Virgem, indicam que Ela está grávida, prestes a dar à luz a plenitude do seu amor, ou seja, o fruto de suas entranhas. Isto permite venerá-La como Nossa Senhora da Visitação, pois, assim como Ela foi ao encontro de sua prima quando estava gestando o Filho prometido, também desceu do Céu ao Novo Mundo trazendo em seu seio o Filho da promessa: Cristo Jesus.14
Aos pés de Maria Santíssima aparece uma figura humana dotada de asas, cuja forma anatômica é idêntica às da águia. Seus rasgos fisionômicos chamam a atenção, porque o rosto reflete a inocência do infante, mas o modo como o cabelo está cortado e se implanta na cabeça, com discretas entradas na área frontal, evoca a maturidade de um sábio adulto. Sua idade indeterminada e a atitude de suas mãos simbolizam a união da terra com o Céu, do tempo com a eternidade, uma vez que com uma mão toma a extremidade da túnica e, com a outra, a do manto. Ele é, ao mesmo tempo, elo e mensageiro.15
“Tudo está unido: o Céu e a terra estão irmanados; o sol, a lua e as estrelas já não estão mais em conflito ou em guerra cósmica, senão em harmonia, cobrindo a figura de Maria”,16 interpreta Mons. Chávez Sánchez.
Admirável e supremo sinal
Para os homens do século XX reservava Nossa Senhora, no entanto, um magnífico e incontestável sinal nos olhos da figura da tilma de São João Diego, pois ali se encontram aspectos inexplicáveis para a ciência. Há neles a presença de diversas imagens óticas, e a íris, ao ser iluminada, se torna “brilhante e os reflexos luminosos contrastam com maior clareza, fenômeno que se pode perceber sem necessidade de aparelhos, e que induz o observador a pensar que se trata de um olho humano in vivo”.17
Os olhos de Nossa Senhora de Guadalupe vêm sendo analisados há décadas por especialistas, os quais se depararam com o fato de apresentarem profundidade ocular idêntica à do ser humano, capaz de refletir imagens de dois tipos: as que podem ser vistas com um oftalmoscópio e as que só aparecem por meio de ampliações eletrônicas até de duas mil vezes.
No olhar de Maria está inexplicavelmente impressa a cena do momento em que João Diego abriu sua tilma para deixar cair as rosas: nela os técnicos identificam os diversos personagens presentes. Como se conseguiria, ainda com as avançadas técnicas atuais, pintar mais de dez pessoas em tão minúscula área e num tecido tão rude?
Para Deus, porém, nada é impossível. E todos os detalhes aqui comentados revelam que Ele é o insuperável Autor da figura da Virgem de Guadalupe, em cujos olhos está presente também o que, ao nosso ver, seria o admirável e supremo sinal: São João Diego contempla extasiado sua Imperatriz, com o mesmo olhar inocente de tantos Santos que viriam a florescer na América ao longo dos séculos.
Quais terão sido os seus pensamentos durante os últimos anos de sua vida, ao se recolher numa ermida no alto do Tepeyac? Talvez ele passasse contemplando as maravilhas da graça que Maria prometera derramar sobre nosso continente, que então nascia para a Fé, vislumbrando o futuro esplendoroso e mariano que viria, e para o qual nunca deixou de olhar! ◊
Notas