Três históricos documentos pontifícios dão resposta a uma das perguntas que mais preocuparam os homens de todos os tempos: qual é o destino das almas depois da morte?
A obra de cada um será provada pelo fogo
No Evangelho, a Verdade afirma que, se alguém tiver proferido blasfêmia contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado nem neste século nem no futuro (cf. Mt 12, 32). Por estas palavras se dá a entender que algumas culpas são perdoadas no século presente, outras, ao contrário, no século futuro.
De outro lado, o Apóstolo afirma que “a qualidade da obra de cada um será provada pelo fogo” e “aquele cuja obra for queimada receberá a punição, mas ele mesmo será salvo como que através do fogo” (I Cor 3, 13.15).
Também os próprios gregos, segundo o que se diz, creem e afirmam segundo a verdade e sem nenhuma dúvida que as almas daqueles que receberam, mas não cumpriram a penitência, ou então os que morreram sem pecado mortal, mas com pecados veniais ou de pouca monta, são purificados depois da morte e podem ser ajudados com as orações de sufrágio da Igreja.
Ora, porque dizem que o lugar de tal purificação não lhes foi indicado com nome preciso e peculiar pelos seus doutores, nós, que segundo a tradição e autoridade dos Santos Padres o denominamos “Purgatório”, queremos que, de agora em diante, seja por eles chamado com este nome.
Com aquele fogo transitório, de fato, certamente são purificados os pecados, não todavia os delituosos ou mortais que não foram perdoados antes mediante a penitência, mas os pequenos e de pouca monta que ainda pesarem depois da morte, mesmo tendo sido perdoados durante a vida. Se alguém, pois, sem a penitência, morrer em pecado mortal, sem dúvida alguma será atormentado para sempre pelas chamas da geena eterna.
Inocêncio IV. Excerto da Carta “Sub catholicæ professione”, do I Concílio de Lião ao Bispo de Túsculo, legado da Sé Apostólica junto aos gregos, 6/3/1254 (Dz 838-839)
Cada um receba segundo o que fez
Com esta constituição, que terá vigência perpétua, nós, em virtude da autoridade apostólica, definimos: que, segundo a geral disposição de Deus, as almas de todos os Santos que deixaram este mundo antes da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, bem como as dos Santos Apóstolos, mártires, confessores, virgens e dos outros fiéis que morreram depois de terem recebido o Santo Batismo de Cristo, nos quais nada havia a purificar quando morreram, nem haverá se no futuro morrerem, ou se neles tiver havido ou houver alguma coisa a purificar e tiverem sido purificados depois de sua morte; e que as almas das crianças renascidas pelo Batismo de Cristo e das que devem ser batizadas, uma vez que forem batizadas e morrerem antes do uso do livre-arbítrio, logo depois de sua morte e da purificação mencionada em relação aos que precisavam de tal purificação, mesmo antes de reassumir os seus corpos e antes do Juízo Universal, depois da Ascensão do Salvador Nosso Senhor Jesus Cristo ao Céu, estiveram, estão e estarão no Céu, no Reino dos Céus e no Celeste Paraíso, com Cristo, associadas à companhia dos Santos Anjos; e que depois da Paixão e da Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo viram e veem a essência divina com uma visão intuitiva e, mais ainda, face a face – sem que haja a mediação de nenhuma criatura como objeto de visão, revelando-se ao invés sua essência divina de modo imediato, desnudo, claro e manifesto –; e que aqueles que assim veem, gozam plenamente da mesma essência divina, e assim, em virtude de tal visão e gozo, as almas dos que já faleceram são verdadeiramente bem-aventuradas e têm a vida e a paz eterna, como também as dos que mais tarde hão de falecer verão a essência divina e gozarão dela antes do Juízo Universal; e definimos que tal visão da essência divina e a sua fruição fazem cessar nelas os atos de fé e de esperança, enquanto a fé e a esperança são propriamente virtudes teologais; e, depois que tal visão intuitiva face a face e tal fruição teve ou tiver início nelas, esta visão e fruição – sem alguma interrupção ou privação da mencionada visão e fruição –, permanecem ininterruptas e continuarão até ao Juízo Final e, a partir deste, por toda a eternidade.
Definimos também que, segundo a geral disposição de Deus, as almas dos que morrem em pecado mortal atual, logo depois de sua morte descem ao inferno, onde são atormentadas com suplícios infernais, e que, todavia, no dia do Juízo, todos os homens com seus corpos comparecerão “diante do tribunal de Cristo” para prestar contas de suas ações, “para que cada um receba o que lhe toca segundo o que fez quando estava no corpo, seja de bem ou de mal” (II Cor 5, 10).
Bento XII. Excerto da Constituição “Benedictus Deus”, 29/1/1336 (Dz 1000-1002)
Qual é a sorte dos defuntos?
Se os verdadeiros penitentes falecerem no amor de Deus, antes de ter satisfeito com frutos dignos de penitência o que cometeram ou deixaram de fazer, suas almas são purificadas depois da morte com as penas do Purgatório. E para que recebam um alívio destas penas ajudam-nos os sufrágios dos fiéis viventes, como o sacrifício da Missa, as orações, as esmolas e as outras práticas de piedade que os fiéis costumam oferecer pelos outros fiéis, segundo as disposições da Igreja.
Quanto às almas daqueles que, depois do Batismo, não se mancharam de nenhuma culpa, e também a respeito daquelas que, depois de ter cometido o pecado, foram purificadas ou nesta vida ou depois da sua morte no modo acima descrito, declaramos que são logo aceitas no Céu e veem claramente o Deus uno e trino como Ele é, mas algumas de modo mais perfeito que outras, segundo a diversidade dos méritos.
Ao invés, as almas daqueles que morrem em pecado mortal atual ou somente original, descem imediatamente ao inferno para serem punidas, porém com penas diferentes.
Igualmente definimos que a Santa Sé Apostólica e o Romano Pontífice têm o primado sobre todo o universo e que o mesmo Romano Pontífice é o sucessor do Bem-aventurado Pedro, Príncipe dos Apóstolos, é verdadeiro Vigário de Cristo, cabeça de toda a Igreja, pai e doutor de todos os cristãos; e que Nosso Senhor Jesus Cristo transmitiu a ele, na pessoa do Bem-aventurado Pedro, o pleno poder de apascentar, reger e governar a Igreja universal, como é atestado também nas atas dos concílios ecumênicos e nos sagrados cânones. ◊
Eugênio IV. Excerto da Bula Lætentur cæli, do Concílio de Florença, 6/7/1439 (Dz 1304-1307)