Alcançar os altos cumes da santidade é algo inteiramente acessível a cada um de nós. Porém, para subir ao topo dessa gloriosa montanha há apenas um caminho: a cruz! Ela só pode ser escalada por pés que sangram.

 

Folheando as páginas do Catecismo da Igreja Católica, deparamo-nos com uma afirmação muito importante: “Deus tudo criou para o homem, mas o homem foi criado para servir e amar a Deus”.[1]

Eis o glorioso cume para o qual a Providência nos convoca! Entretanto, para alcançá-lo, descortina-se aos nossos olhos uma escalada repleta de incertezas e de mistérios.

A santidade não é impossível

Ao menos alguma vez na vida, muitos já se perguntaram: “Será mesmo possível alcançar a santidade? É possível para o homem suportar tantos sofrimentos, vencer terríveis tentações e perseverar numa luta incessante até o fim da vida? Não será esse um empenho inútil, por visar o impossível?”

Se a santidade fosse realmente algo inviável, o Céu não estaria coalhado de santos! De fato, a Igreja possui, atualmente, milhares de filhos canonizados por sua santidade de vida. E estes são apenas os que constam no Martirológio, pois muitos justos atravessaram a História sem serem reconhecidos por ninguém, a não ser por seus mais próximos, e, é claro, por Deus.

Ora, se tantos lograram alcançar o alto desta sagrada montanha da prática da virtude, nós também o podemos fazer, com o auxílio da graça. Com efeito, não podemos pensar que os santos eram seres de uma “natureza mais elevada”, ou nascidos com algum super poder especial… Eram homens comuns, como nós!

Santa Teresinha, por exemplo, registra em suas memórias ter sido quando pequena uma menina muito mimada e de temperamento forte e orgulhoso, o qual teve de vencer a força de sacrifícios, renúncias e não poucas lágrimas…[2]

O grande Poverello de Assis, São Francisco, também enfrentou uma verdadeira luta contra seus costumes mundanos e sua frivolidade antes de cumprir a missão que Deus lhe havia reservado.[3]

Até mesmo o Apóstolo, São Paulo, narra com humildade suas debilidades e fraquezas: “Para que a grandeza das revelações não me levasse ao orgulho, foi-me dado um espinho na carne, um anjo de satanás para me esbofetear e me livrar do perigo da vaidade. Três vezes roguei ao Senhor que o apartasse de mim. Mas ele me disse: ‘Basta-te minha graça, porque é na fraqueza que se revela totalmente a minha força’” (II Cor 12, 7-9).

Da esquerda para direita: São Paulo – Igreja de São Paulo, Saragoça (Espanha); São Francisco de Assis – Mosteiro da Flagelação, Jerusalém;
Santa Teresa de Ávila – Santuário de Nossa Senhora do Monte Carmelo, Barcelona; Santa Teresinha do Menino Jesus vestida como Santa Joana d’Arc no Carmelo de Lisieux

Assim, a santidade é algo inteiramente acessível a nós. E Deus, como um Pai amoroso, no interior de nossas almas não cessa de nos convidar: “Meu filho, minha filha, coragem! Empreenda esta escalada que lhe parece impossível. Eu estarei contigo! Avance passo a passo e, quando você menos esperar, os Anjos estarão lhe carregando!”

Só há um caminho!

Diante do desafio de galgar um alto cume, é natural que se comece por analisar qual é o melhor caminho para alcançá-lo. Porém, as “almas alpinistas” que se decidiram a ser santas só têm uma única via para atingir sua meta: carregar a cruz!

Diz o Eclesiástico: “Meu filho, se entrares para o serviço de Deus, prepara a tua alma para a provação. Humilha teu coração, espera com paciência. Não te perturbes no tempo da infelicidade, e sofre as demoras de Deus. Aceita tudo o que te acontecer. Na dor, permanece firme; na humilhação, tem paciência. Pois é pelo fogo que se experimentam o ouro e a prata, e os homens agradáveis a Deus, pelo cadinho da humilhação” (2, 1-5).

Em sua infinita misericórdia e carinhosa paternalidade, Deus quis ser o primeiro a enfrentar o sofrimento que de nós exige, e o fez em proporções inimagináveis, não apenas para poder derramar sobre nós torrentes de graças que nos sustentem, mas também para nos dar o exemplo.

Afinal, Deus Filho bem poderia, ao Se encarnar, ter redimido o gênero humano com apenas um sorriso, pois seus atos possuíam valor infinito! Entretanto, quis Ele verter até sua última gota de Sangue no mais cruel e humilhante martírio. Foi coberto de injúrias e desprezado por aqueles mesmos pelos quais Se oferecia. Ele não poderia ter sofrido mais!

O único caminho capaz de nos conduzir ao Céu foi, portanto, fundado e inaugurado pelo próprio Filho de Deus feito Homem. A gloriosa montanha da santidade só pode ser escalada por pés que sangram!

Uma prova do amor de Deus

Quando nos assaltarem, pois, os turbilhões das tentações, das perplexidades e das angústias, não desanimemos! Pelo contrário, compenetremo-nos de que estes são os melhores momentos de nossa vida, nos quais podemos oferecer a Deus um amor puro, sem esperar retribuições, sentindo-nos abandonados por Ele mesmo. Nessas horas, devemos nos ajoelhar e agradecer, certos de que fomos escolhidos para entrar pela porta estreita que nos conduzirá ao Céu!

Simão Cirineu ajuda a Jesus a carregar a Cruz –
Santuário de Częstochowa (Polônia)

No mundo hodierno, demonstrar predileção por alguém significa cumulá-lo de honras e prazeres; para Deus, no entanto, isso não é assim. A prova do amor de Deus para com alguém são os sofrimentos que lhe envia, pois é no cadinho da dor que a alma se une à Paixão redentora de Cristo e se faz uma com Ele.

Não tomemos, então, as adversidades como um castigo ou uma vingança pelos nossos pecados. Pelo contrário, mesmo quando suportamos merecidos sofrimentos, saibamos que eles foram permitidos pela Providência por amor e para o nosso bem. Aproveitemo-los para progredir na virtude e “alegremo-nos em ser participantes dos sofrimentos de Cristo, para que possamos exultar no dia em que for manifestada sua glória!” (Cf. I Pd 4, 13).

Recorramos ao auxílio do Céu!

Os santos brilham no firmamento da História porque foram perseverantes e galgaram com entusiasmo a montanha do amor a Deus. Nesta dura batalha da vida, recorramos, pois, àqueles que já combateram o bom combate, guardaram a Fé e receberam das mão do Senhor, Justo Juiz, a coroa de glória na Eternidade!

Eles são nossos irmãos! Sem dúvida, esperam ansiosos por ouvir de nossos lábios um humilde pedido de ajuda, uma prece devota, um fervoroso ato de Fé! Logo que o fizermos, certamente virão correndo ao nosso encontro e nos fortalecerão nas vias da virtude!

E se, mesmo assim, nos faltar o ânimo ou nos assaltar a dúvida, por intermédio de Nossa Senhora lancemo-nos nos braços de nosso Divino Redentor e abandonemo-nos aos seus onipotentes cuidados, e logo ouviremos sua doce voz a sussurrar no interior de nossa alma: “Não tenhas medo dos sofrimentos; Eu estou contigo!”[4] 

 

Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP, adorando a Santa Cruz no Ofício da Paixão do Senhor, 14/4/2017

Os melhores momentos da vida…

Há momentos em nossa vida em que as provas e as tentações sofridas parecem levar-nos à deriva, como um barco perdido em meio à tempestade em mar bravio. São os melhores momentos, as melhores horas, onde Deus nos prova, permitindo inclusive aos demônios nos joeirarem por meio das tribulações para tentar perder-nos.

Assim Deus prova os seus justos para oferecerem um amor puro por Ele, sem esperar retribuições, sentindo-se abandonados por Ele mesmo.

Se isso lhe acontecer, agradeça, pois foi escolhido para entrar pela porta estreita que conduzirá ao Céu.

Plinio Corrêa de Oliveira

 

Notas

[1] CCE 358.
[2] Cf. SANTA TERESINHA DO MENINO JESUS. História de uma alma. Manuscritos Autobiográficos. São Paulo: Paulus, 2002.
[3] Cf. A VIDA DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS. Assis: Minerva Assisi, 2014, p.21-49.
[4] SANTA MARÍA FAUSTINA KOWALSKA. Diario: la Divina Misericordia en mi alma. Granada: Levántate, 2003, p.102.

 

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