Grandeza e frutos da Santa Missa

Cabe aos pastores explicar acuradamente aos fiéis a importância, majestade, grandeza, finalidade e os frutos da Santo Sacrifício; e assim estimulá-los a participarem dele o mais frequentemente possível.

 

C omo bem sabeis, veneráveis irmãos, tamanhas foram a bondade e a benevolência de nosso amantíssimo Redentor Jesus Cristo, Filho unigênito de Deus, para com os homens, que Ele assumiu a natureza humana e aceitou suportar por nossa eterna salvação os mais duros tormentos e sofrer a crudelíssima morte na Cruz. Com infinito amor, quis também permanecer sempre conosco no Santíssimo Sacramento de seu Corpo e Sangue, para ser nosso guia e alimento e para garantir-nos sua divina presença e um seguro apoio na vida espiritual, após seu retorno à destra de Deus Pai no Céu.

Sacrifício único e perpétuo diariamente renovado

Não contente de nos ter amado com tão sublime caridade, própria de Deus, acumulando dons sobre dons, quis depois espargir as riquezas de seu amor a nós para nos dar inteira compreensão de que, tendo amado os seus, até o fim os amou (cf. Jo 13, 1).

Melquisedec oferece pão e vinho a Abraão – Igreja de Notre-Dame, Beaune, (França)

Com efeito, proclamando-Se eterno Sacerdote segundo a ordem de Melquisedec, instituiu na Igreja Católica um sacerdócio perpétuo e ordenou que permanecesse eficaz até o fim dos séculos o Sacrifício que Ele mesmo ofereceu uma vez por todas, derramando no altar da Cruz seu preciosíssimo Sangue para redimir e resgatar todo o gênero humano do jugo do pecado e da escravidão do demônio, reconciliando as coisas do Céu e as da terra.

Prescreveu também que ele fosse renovado todos os dias pelo ministério dos sacerdotes, diferente apenas na maneira de oferecer, para que os salutares e superabundantes frutos de sua Paixão continuassem a despejar-se sobre os homens.

No sacrifício incruento da Missa, realizado por meio do admirável ministério dos sacerdotes, é assim oferecida aquela mesma Vítima que nos reconciliou com Deus Pai e que, englobando em Si o legítimo poder de aplacar, de impetrar e de satisfazer, “repropõe misteriosamente a morte do Unigênito que, uma vez ressuscitado dos mortos, não morre mais; sobre Ele a morte não terá mais poder; portanto, Ele vive em Si mesmo, imortal e incorruptível, mas é novamente imolado em nosso favor nessa misteriosa oferenda sagrada”.[1] É um sacrifício tão puro que nenhuma indignidade ou perversidade dos sacrificantes poderá de modo algum depreciar.

Frutos transbordantes para a vida presente e a futura

Através do profeta Malaquias, divinamente inspirado, o próprio Senhor predisse que esse Sacrifício seria grande entre as nações e deveria ser oferecido puro no mundo inteiro, do nascente ao poente (cf. Ml 1, 11). É de tal modo transbordante de frutos que abrange a vida presente e a futura.

Reconciliado por esse Sacrifício, Deus concede com largueza sua graça e seu perdão, apaga até as mais graves culpas e, embora gravemente ofendido por nossos pecados, passa da ira à misericórdia, da severidade à clemência. Por meio desse dom, são anulados o delito e o cumprimento das penas temporais; pode-se por meio dele aliviar as almas daqueles que morreram em Cristo e não estão ainda plenamente purificadas, pode-se inclusive obter bens temporais, desde que não sejam opostos aos espirituais. Sempre através dele são devidamente exaltados o culto e o louvor prestados aos Santos e, sobretudo, à Santíssima Virgem Maria, Mãe de Deus.

Segundo a tradição recebida dos Apóstolos, oferecemos o divino Sacrifício da Missa “pela paz em todas as igrejas, pela necessária harmonia no mundo; pelos governantes, pelos soldados, pelos aliados, pelos enfermos, pelos aflitos, por todos quantos se encontram em situação de indigência, por todos os falecidos retidos no Purgatório, sustentados pela firme esperança de que poderá ser-lhes muito proveitosa a oração feita em seu favor enquanto se recorda a Vítima santa e temível”.[2]

Cerimônias e ritos próprios a exprimir a grandeza do Mistério

Santa Missa – Museu das Almas do Purgatório, Roma

Nada existe de mais grandioso, mais salutar, mais santo, mais divino do que o incruento Sacrifício da Missa, mediante o qual é oferecido e imolado a Deus, pelas mãos dos sacerdotes e para a salvação de todos, o próprio Corpo, o próprio Sangue, o próprio Deus e Senhor Nosso Jesus Cristo. Por isso a Santa Madre Igreja, dotada do inexaurível tesouro de seu divino Esposo, nunca se descuidou de cercá-lo de cuidados e atenções, para que um tão magno Mistério fosse realizado por sacerdotes de coração puro e reto; além disso, celebrado com um aparato exterior de cerimônias e de ritos próprios a exprimir a grandeza e a magnificência desse Mistério, de modo que os fiéis pudessem ser estimulados à contemplação das realidades divinas encerradas em tão admirável e venerando Sacrifício.

Com igual cuidado e solicitude, a mesma piedosíssima Mãe nunca cessou de admoestar, exortar e persuadir seus fiéis filhos a participarem o mais frequentemente possível desse divino Sacrifício, com as devidas predisposições de piedade, amor e devoção, recordando-lhes o rigoroso dever de assistir a todas as festas de preceito, com ânimo e olhar devotamente atentos àquele Mistério do qual podem haurir com facilidade a divina misericórdia e a abundância de todos os bens.

Os pastores devem oferecer o Santo Sacrifício pelo seu povo

Já que todo sacerdote, escolhido entre os homens, é por estes delegado, em tudo quanto diz respeito a Deus, para oferecer dons e sacrifícios pelos pecados, vós sabeis bem, veneráveis irmãos, que os pastores de almas têm obrigação de oferecer o sacrossanto Sacrifício da Missa pelas almas a eles confiadas. Segundo os ensinamentos do Concílio Tridentino, tal dever emana da própria Lei divina. Esse Concílio usa palavras bastante autorizadas e eloquentes para afirmar: “Todos aqueles aos quais foi confiado o pastoreio das almas são obrigados por divina disposição, a reconhecer suas ovelhas e oferecer por elas o Sacrifício”.[3]

Ademais, conheceis todos vós a Encíclica de Bento XIV,[4] na qual este nosso predecessor de feliz memória tratou ampla e profundamente desta obrigação e – procurando depois precisar e confirmar o pensamento dos Padres Tridentinos, com o objetivo de eliminar controvérsias, dúvidas e discussões – decretou de modo claro e inequívoco que os párocos e todos os pastores de almas devem oferecer o Sacrifício da Missa pelo povo a eles confiado todos os domingos e festas de preceito, mesmo naquelas que por sua disposição, em muitas dioceses, tinham sido removidas da lista de festas de preceitos para permitir àquelas populações dedicarem-se aos trabalhos servis, mantendo firme a obrigação de assistir à Santa Missa. […]

Velai pelo zelo e a santidade dos vossos sacerdotes!

Bem sabeis, veneráveis irmãos, que há no sacrossanto Sacrifício da Missa uma grande possibilidade de ensinamento para o povo cristão. Nunca descuideis, portanto, de fazer prementes exortações aos párocos, em primeiro lugar, aos pregadores e àqueles aos quais se confiou a tarefa de instruir o povo cristão, para que exponham e expliquem acuradamente aos fiéis a importância, a majestade, a grandeza, a finalidade e os frutos deste tão admirável e magnífico Sacrifício;ao mesmo tempo, estimulem-nos a participarem dele o mais frequentemente possível, com a Fé, a devoção e a piedade dignas de tal Sacrifício, a fim de obterem a misericórdia divina e todas as graças das quais tenham necessidade.

Não descuideis de atuar com todo empenho para que os sacerdotes de vossas dioceses se destaquem pela integridade dos costumes, pela seriedade, pela retidão e pela santidade, como convém a quem recebeu o poder de consagrar a Hóstia divina e de realizar um tão santo e extraordinário Sacrifício.

Fazei, ademais, prementes advertências e apelos aos jovens sacerdotes para que, meditando seriamente no ministério recebido do Senhor, possam cumpri-lo e, sempre atentos à dignidade e ao celestial poder do qual foram investidos, se revistem do esplendor de todas as virtudes e do mérito da doutrina sagrada; elevem com convicção a mente ao culto, às coisas divinas e à salvação das almas; apresentando-se como hóstia viva e santa imolada ao Senhor, e como testemunhas vivas da Paixão de Jesus, ofereçam a Deus com mãos limpas e coração puro, como convém, a Vítima de expiação por sua própria salvação e pela de todo o mundo.

Excertos de: PIO IX.
Amantissimi Redemptoris,
3/5/1858

 

Notas

[1] SÃO GREGÓRIO MAGNO. Dialogi. L.IV, c.58.
[2] SÃO CIRILO DE JERUSALÉM. Catechesis XXIII, n.5.
[3] CONCÍLIO DE TRENTO. Sessio XXIII. De reformatione, c.I.
[4] BENTO XIV. Cum semper oblatas.

 

 

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