Para cumprir sua missão, a Filha de Maria Auxiliadora deve possuir a perfeição religiosa traçada, sobretudo, na vida, nos exemplos e escritos do Pai e Fundador. Pois ele é o modelo e mestre infalível de nossa própria perfeição.
A elevação de nosso Pai e Fundador Dom Bosco à honra dos altares,[1] que suscitou indizível entusiasmo universal e confiança total no seu poder de intercessão, aguçou no meu coração o desejo, já tão vivo, de ver as boas Filhas de Maria Auxiliadora, que são filhas também dele, progredirem muito na perfeição religiosa.
Se o nosso Beato já nos era proposto como modelo e mestre incomparável no início do ano que em breve não terá mais amanhã, agora com mais razão sobreviverá eternamente esse sentimento em nossos corações. […]
Ter continuamente presente este atraente modelo
Primeiro a ansiosa expectativa; depois as triunfais e insuperáveis comemorações; mais tarde a crescente devoção ao novo Bem-Aventurado que logo se tornou quase universal pela grande quantidade de graças e favores, expressos nos ex-votos, nas centenas de velas continuamente acesas diante da urna das relíquias no Santuário de Maria Auxiliadora e nos incessantes pedidos de orações para obter graças ou para agradecer as graças recebidas. Estou certo de que tudo isso tornou quase vivo e palpável para cada Filha de Maria Auxiliadora o presente de Natal deste ano que está por finalizar.
Impossível é para uma Filha de Maria Auxiliadora não ter habitualmente presente este atraente modelo de educador e mestre de vida religiosa que refulge, na auréola do Bem-Aventurado, de todas as virtudes próprias à sua missão, pois, para cumprir sua vocação, a Filha de Maria Auxiliadora deve possuir a perfeição religiosa definida pelo Fundador. Esta é traçada nas regras, no manual dos atos de piedade, mas, sobretudo, na sua vida, nos seus exemplos e nos seus escritos.
Peço-vos, pois, Revda. Madre, que exciteis cada Filha de Maria Auxiliadora a haurir desta fonte o sopro vital de sua própria perfeição, isto é, o carisma do Instituto, que não pode ser encontrado alhures, nem sequer nos livros que visam conduzir a alma quase passo a passo nas vias da santificação.
Podemos encontrar nesses livros princípios e normas gerais, mas não as aplicações conformes ao espírito do Fundador que, com maior autoridade agora, repete às suas filhas: “dei-vos o exemplo, para que façais o mesmo; assim agindo, atingireis certamente a perfeição à qual o Senhor vos chama”.
Oh! que grande coisa esta, a de ter no Pai e Fundador do próprio Instituto o infalível modelo e mestre de perfeição!
Cada uma se tornará o ornamento de seu próprio Instituto
O supremo Magistério da Santa Igreja nos garante isso; e sua vida – lida, meditada e estudada com amoroso empenho – será para as Filhas de Maria Auxiliadora o luminoso espelho no qual poderão ver o desenvolvimento progressivo de sua perfeição, baseada na caridade e na atividade, como a do Bem-Aventurado Padre.
Compete a vós, Revda. Madre, proporcionar às suas filhas esse espelho de perfeição. Como? Fornecendo-lhes, ou ao menos lhes facilitando ter à disposição, biografias do Bem-Aventurado, já muito numerosas; dando-lhes tempo de fazer uma boa leitura cotidiana, individual ou, melhor ainda, em conjunto; animando-as a valorizar de todos os modos e em todas as oportunidades os abundantes ensinamentos nelas contidos.
Assim, cada Filha de Maria Auxiliadora se tornará ornamento de seu próprio Instituto, será “salvadora” de almas no campo da educação e perfeita religiosa na prática heroica de todas as virtudes que levam à santidade.
Mirando-se nesse espelho, ela logo conseguirá eliminar as más inclinações, os critérios pessoais, o amor próprio – o qual chispeia em todos os poros da pessoa e sabe camuflar-se inclusive sob as aparências de zelo – e a refinada procura de si mesma, mais insidiosa em tramar silenciosamente em torno do próprio “eu” razões de todo tipo para fazer prevalecer seus direitos pessoais.
Conseguirá isso porque encontrará na vida do Bem-Aventurado exemplos e normas abundantes para lutar eficazmente contra todos esses inimigos pela oração, pela mortificação e pela ilimitada atividade em bem das almas, até a completa imolação de si mesma. […]
Nossa perfeição consiste em nos unirmos a Deus
Mas a Filha de Maria Auxiliadora deve aprender da vida do Bem-Aventurado Padre, sobretudo, a via para se elevar continuamente na perfeição religiosa, ou seja, na união com Deus. Pois, em última análise, nossa perfeição consiste precisamente em nos unirmos a Deus e nos identificarmos com Ele, sem repouso e com todas as nossas forças.
Ora, a união com Deus nada mais é do que o fruto do amor a Deus e ao próximo por Ele amado, como nosso Bem-Aventurado nos ensinou com sua característica simplicidade e nos ensina agora ainda mais, do trono de sua glória.
Não nos detenhamos nas abstrusas considerações de tantos métodos e fórmulas incongruentes, mas contemplemos a simplicidade evangélica. Removamos com decisão e sem tardança os obstáculos que se opõem a essa união, ou seja, o pecado e os maus hábitos; e, logo em seguida, comecemos a correr pela via que nos foi traçada, fazendo obras de amor e aceitando os sacrifícios inerentes à nossa missão apostólica.
Como Dom Bosco, precisamos chegar à união com Deus pelo caminho mais curto, no mínimo tempo possível, para poder consagrar tudo ao bem do próximo, no qual reside a verdadeira prova do amor a Deus e da união com Ele.
Nosso Bem-Aventurado fixou o olhar no fim último de nossa perfeição e, por assim dizer, apossou-se dele para usá-lo como meio de progredir em perfeição a cada momento.
Ele parece dizer: “Já que a perfeita união com Deus é a meta de nossa eterna felicidade, comecemos esta união divina aqui mesmo, sem perda de tempo, vivendo unicamente na presença de Deus, consagrando-Lhe todas as nossas aspirações, nossas palavras e nossas obras no apostolado junto às almas que Ele confiou aos nossos cuidados. Tudo quanto façamos, seja feito em união com Deus, sem qualquer consideração conosco ou com as criaturas: tudo por Deus na obra de salvação das almas!”. ◊
Excertos de: Carta à Superiora Geral
das Filhas de Maria Auxiliadora, 21/9/1929.
In: DALCERRI, FMA, L. Un maestro di vita interiore:
Dom Filippo Rinaldi. Roma: FMA, 1990, p.109-121
Notas
[1] São João Bosco foi beatificado pelo Papa Pio XI em 2/6/1929, alguns meses antes de ter sido escrita esta carta.