O profeta, que rema contra a corrente do seu tempo para fazer ouvir a voz de Deus, e o apóstolo, que tudo deixa para atrair as almas a Nosso Senhor Jesus Cristo, são modelos válidos para os católicos de nossos dias?
Evangelho do XV Domingo do Tempo Comum
Naquele tempo: 7 Jesus chamou os Doze, e começou a enviá-los dois a dois, dando-lhes poder sobre os espíritos impuros. 8 Recomendou-lhes que não levassem nada para o caminho, a não ser um cajado; nem pão, nem sacola, nem dinheiro na cintura. 9 Mandou que andassem de sandálias e que não levassem duas túnicas. 10 E Jesus disse ainda: “Quando entrardes numa casa, ficai ali até vossa partida. 11 Se em algum lugar não vos receberem, nem quiserem vos escutar, quando sairdes, sacudi a poeira dos pés, como testemunho contra eles!” 12 Então os Doze partiram e pregaram que todos se convertessem. 13 Expulsavam muitos demônios e curavam numerosos doentes, ungindo-os com óleo (Mc 6, 7-13).
I – Os profetas, eleitos por Deus
Ao longo dos séculos, os povos costumam escolher seus reis e podem, inclusive, separar do próprio meio aqueles que serão seus sacerdotes. Existe, porém, um ministério cuja designação é impossível caber aos homens: a função profética. O profeta é, por excelência, um homem eleito por Deus, em qualquer classe social, e arrancado de seu ambiente para transmitir uma mensagem que não é sua, mas d’Aquele que o chamou. Isso é uma constante na história do povo judeu, no Antigo Testamento, como vemos de forma muito cogente na primeira leitura (Am 7, 12-15) deste 15º Domingo do Tempo Comum.
Amós, profeta de desgraças em meio à corrupção de Israel
Amós era um simples pastor e agricultor de Técua, pequena localidade situada a pouca distância de Belém, a sudeste, no deserto de Judá. Todos os dias, antes do nascer do sol, conduzia seu rebanho ao alto de uma montanha e lá permanecia, vigiando para que os lobos não o atacassem. Ao entardecer, reunia as ovelhas em torno de si com um assobio e as levava novamente para o aprisco.
Certa vez, enquanto pastoreava no campo, disse-lhe Deus: “Vai profetizar para Israel, meu povo” (Am 7, 15). A seguir, revelou-lhe todos os castigos que estavam preparados para a nação por causa de sua prevaricação, a fim de que os anunciasse ao rei e seus cortesãos. Se persistissem no mau caminho, seriam afligidos pela guerra, na qual os inimigos os arrasariam e reduziriam a humilhante cativeiro.
A origem dessa ameaça encontrava-se no ocorrido após a morte de Salomão, filho de Davi. Com efeito, houve então uma separação entre os hebreus: as tribos de Judá e de Benjamim ficaram nas mãos de Roboão, filho do grande soberano, e constituíram o Reino de Judá, no sul da Terra Prometida, tendo sua capital em Jerusalém; as outras dez tribos formaram o Reino do Norte, ou de Israel, com capital em Samaria, sendo governadas por Jeroboão, um mero servo. Este receava que o povo, subindo a Jerusalém para adorar o Senhor no Templo, viesse a escapar de seu domínio. Como preferia seus interesses ao benefício espiritual de seus súditos, estabeleceu um falso culto. Para isto, construiu altares no alto dos montes e designou sacerdotes a seu bel-prazer, desviando os israelitas da verdadeira Religião. Tal decadência se acentuou com os monarcas que o sucederam.
Na época de Amós, o trono era ocupado por Jeroboão II, o qual seguiu as pegadas de seus antepassados, adorando os ídolos e induzindo seu povo ao pecado. Para sua tranquilidade de consciência, este rei pagava adivinhos que, como caricatura dos autênticos profetas, lhe fizessem bons agouros. Sob sua chefia Israel alcançara notável prosperidade econômica e militar, atingindo sua máxima expansão territorial. Essa situação de bem-estar e riqueza favoreceu o relaxamento dos costumes, a corrupção moral e o desrespeito completo da Lei mosaica, sobretudo nas classes mais elevadas da sociedade.
Foi em meio à pseudopaz e gozo da vida reinantes que Deus suscitou Amós. Revestido da autoridade do Senhor, este varão passou a profetizar nas proximidades do santuário cismático de Betel, entre os falsos sacerdotes e adivinhos, prognosticando as piores catástrofes em razão das iniquidades que naquele lugar eram cometidas.
Isso incomodou a corte, atraindo especialmente a antipatia dos que desfrutavam daquela posição privilegiada… Um sacerdote de Betel, chamado Amasias, denunciou Amós perante o rei como conspirador (cf. Am 7, 10). Segundo a deturpada concepção religiosa de Israel, ali não cabia a sua profecia. Foi então intimado a voltar para Judá, o Reino do Sul, onde poderia proferir sem empecilhos todos os vaticínios de grandes e terríveis acontecimentos.
Tomado de despretensioso zelo, ele respondeu não ser profeta nem descendente de profeta (cf. Am 7, 14). Ou seja, segundo os critérios da falsa religião criada pelos monarcas israelitas, não viera à procura de emprego e bom salário como os agoureiros contratados em Betel. Ele fora, isto sim, escolhido diretamente por Deus e lá estava apenas a fim cumprir a vontade d’Ele e dizer a verdade àqueles prevaricadores.
Trombetas divinas a indicar o caminho
Eis a grandiosa missão do profeta! Assim a sintetiza o renomado exegeta dominicano Pe. Maximiliano García Cordero: “Os profetas tinham consciência de sua missão e caráter de ‘enviados’ de Deus. Por se declarar como tais, afrontaram muitas contradições, negando essa condição aos falsos profetas. Sua missão era acusar seus contemporâneos por suas transgressões à Lei e, em consequência, opor-se ao sensualismo, à idolatria, às injustiças sociais. Por isso, sempre estão resistindo às classes dirigentes da sociedade, principais responsáveis pela apostasia geral do povo. Ninguém, pois, se não fosse chamado por Deus, se arrogaria tarefa tão ingrata. Eles sentiam dentro de si uma força superior que os impelia a falar em nome de Deus a seus compatriotas”.1
O profeta! Varão chamado a se levantar em luta contra a opinião pública do seu tempo quando ela está se desviando dos caminhos de Deus, como alguém que, diante de um rio caudaloso, resolvesse enfrentar a correnteza e, remando em sentido contrário, dividir as águas.
Como nos dias do profeta Amós, muitas vezes na História aqueles que, por ofício, devem conduzir os povos criam religiões falsas ou deturpam a verdadeira, para agradar as paixões humanas e evitar que as pessoas escapem de seu poder ou influência. O mundo, então, começa a derivar na libertinagem de pensamento e de costumes… Quando se chega a este extremo, Deus escolhe alguns e diz: “Estes serão meus profetas!”, ou seja, suas trombetas a proclamar aos quatro ventos o rumo certo.
Nestas ocasiões, surgem também movimentos proféticos – porque nascidos de um profeta – que entram em choque com a opinião pública, a fim de restaurar completamente a sociedade. Foi o que se deu, por exemplo, no século V, quando São Bento, indignado com a depravação de costumes em Roma naquela época, retirou-se por inspiração do Espírito Santo para uma gruta em Subiaco. Tendo começado a viver ali sozinho, em oração, logo se constituiu em torno de sua figura um filão de discípulos, a Ordem Beneditina, que aos poucos reformou toda a Europa e fez florescer a Idade Média.
Ora, como aconteceu com Amós, com São Bento e com tantos outros eleitos por Deus ao longo dos séculos, no Evangelho deste 15º Domingo do Tempo Comum, Nosso Senhor escolhe seus profetas, aos quais dá o título de Apóstolos. Iniciava-se desse modo o maior movimento profético da História: a Santa Igreja!
II – Os Apóstolos, dedicação exclusiva à Palavra de Deus
O Evangelho desta Liturgia apresenta o primeiro envio dos doze Apóstolos para uma missão de evangelização e as recomendações a eles dadas pelo Mestre.
O instinto de sociabilidade e a necessidade da vigilância
Naquele tempo: 7a Jesus chamou os Doze, e começou a enviá-los dois a dois…
Um pormenor logo chama nossa atenção na leitura desse versículo: os Apóstolos foram enviados “dois a dois”. Por quê?
O ser humano tem em si o mais perfeito de todos os instintos, o de sociabilidade, que lhe torna necessário entrar em relacionamento com os outros. Deus assim estabeleceu desde o início, quando, após a criação de Adão, disse: “Não é bom que o homem esteja só; vou dar-lhe uma ajuda que lhe seja adequada” (Gn 2, 18). Dessa forma, mostrou ser preciso que outra criatura completasse nosso primeiro pai.
Nossa Senhora quis também dar um exemplo semelhante ao visitar Santa Isabel, grávida de seis meses (Lc 1, 36.39). Ambas estavam designadas pela Providência para acontecimentos extraordinários: uma seria a mãe do Precursor, e outra, a Mãe do Messias, o próprio Deus Encarnado. Nesta circunstância, Maria bem poderia limitar-Se a mandar uma mensagem, talvez escrita com cuidado num pergaminho, mas preferiu ir até sua prima e servi-la durante o período mais penoso da gestação, porque percebia ser vontade de Deus que as duas, encontrando-se, se sustentassem mutuamente.
Do mesmo modo, a norma dada por Nosso Senhor significava uma proteção incomparável, pois um Apóstolo serviria de apoio e consolação para o outro, sobretudo nas horas de dificuldade e aridez. Este auxílio colateral recíproco se revelaria indispensável para manter aceso o entusiasmo em meio às lutas que todo evangelizador deve enfrentar!
Entretanto, além dessas razões de caráter psicológico, é preciso destacar o aspecto moral, que torna este princípio não menos oportuno e explica o motivo pelo qual ele vem sendo observado desde a ereção da Igreja. A tal ponto que, por exemplo, Santo Agostinho2 – convertido do maniqueísmo e salvo do lodo do pecado pelas lágrimas de Santa Mônica e pela influência de Santo Ambrósio – quis colocar na regra de sua ordem o preceito de que nunca um religioso deveria sair sozinho. E o santo Bispo de Hipona3 não se limitou a isso, mas chegou à minúcia de estabelecer que, ao voltarem de alguma atividade fora dos muros do convento, os religiosos fossem ouvidos individualmente pelo superior da casa, caso precisassem contar algo desabonador a respeito do comportamento do outro em matéria de moralidade. Depois, conforme a conveniência, este seria corrigido.
Se isso já se fazia necessário no século V, época na qual os homens e as mulheres se vestiam com túnicas até os pés e não existia a podridão moral em que nossa sociedade vem paulatinamente caindo, com quanto mais empenho deveria ser cumprido nos dias de hoje! “Væ soli!”, diz a Escritura, “Ai do homem solitário” (Ecl 4, 10). E, em sentido oposto, Nosso Senhor afirma: “Onde dois ou três estão reunidos em meu nome, aí estou Eu no meio deles” (Mt 18, 20).
Temos nesse primeiro versículo uma confirmação evangélica sobre a importância de, na vida religiosa, sempre agir em dupla ou, melhor ainda, em coletividade.
Um poder espiritual para estimular o desapego material
7b …dando-lhes poder sobre os espíritos impuros.
O poder conferido por Nosso Senhor sobre os anjos maus é essencialmente espiritual e, portanto, exige o desprendimento de tudo o que não diz respeito à vida eterna, a começar pelos bens materiais.
A fim de marcar essa ideia em seus escolhidos, Deus quis que, em seu início, a atividade evangelizadora da Igreja, sintetizada nesses versículos, fosse realizada com escassos recursos. Privados do apoio material, seus discípulos não se apegariam às coisas da terra por julgar, de forma errônea, que a força manifestada no anúncio da Boa-nova provinha do dinheiro, do prestígio ou da influência.
Ao contrário, o “poder sobre os espíritos impuros” coopera para o desapego do apóstolo. Este, em confronto com o maligno, vê-se na contingência de usar um nome mais forte que o próprio, pois é a única palavra que expulsa esse gênero de seres do alojamento que encontraram numa criatura humana: “Em nome de Jesus Cristo, eu te ordeno…”; de outro modo, a batalha está perdida. Fica patente que a vitória foi obtida não pelo nome dele, apóstolo, nem por suas posses ou capacidades, mas sim pela supremacia d’Aquele ao qual invocou. E que tremenda humilhação para o demônio ter de obedecer a um homem!
Isso nos mostra que o espírito de um verdadeiro apóstolo deve ser de pobreza e desprendimento, ciente de que, mesmo desprovido dos bens deste mundo, possui uma riqueza vetada aos outros homens. E, portanto, é-lhe indispensável reportar continuamente a Deus todo o bem que Ele possa fazer valendo-Se do apóstolo como mero instrumento.
A segurança do apóstolo deve estar só em Deus
8 Recomendou-lhes que não levassem nada para o caminho, a não ser um cajado; nem pão, nem sacola, nem dinheiro na cintura. 9 Mandou que andassem de sandálias e que não levassem duas túnicas.
Por incrível que pareça, as pessoas daquele tempo, ainda mais que as de nossos dias, eram securitárias e, portanto, não se deslocavam sem ter as garantias, conforme as condições da época, de que não lhes aconteceria nada de grave pelo caminho.
Antes de mais nada, era inconcebível andar sem uma reserva de dinheiro. Com esse intuito, usava-se o cinto para uma missão muito mais funcional do que simplesmente a de prender com elegância a túnica: as moedas eram escondidas em seu interior, em geral dentro de uma bolsinha ou, às vezes, nas dobras da própria faixa, a fim de não serem roubadas pelos assaltantes no caminho. A mesma preocupação manifestava-se levando uma provisão de alimentos suficiente para o percurso. E era prudente carregar uma segunda túnica, para a eventualidade de se estragar a que estava em uso.
Contrariando esses costumes perfeitamente compreensíveis, Nosso Senhor exige dos apóstolos o espírito de pobreza também nas coisas necessárias. São obrigados a levar uma única túnica, nenhum alimento, nem “dinheiro na cintura”; ou seja, deviam trazer o que estava no corpo, e mais nada, pondo-se por inteiro nas mãos da Providência Divina. Tão só devido à aspereza dos caminhos, permite-lhes portar um cajado para apoiar quando o corpo estivesse cansado ou lutar com animais selvagens, como fez Davi contra leões e ursos (cf. I Sm 17, 34-36). Se assim não fosse, dada a miséria humana, logo começariam os apegos e até o entesouramento de bens materiais.
Tratava-se, portanto, de uma situação de carência impressionante para as praxes do tempo, pois não havia quem se deslocasse dessa forma. Era o modo de mostrar que o tipo humano lançado por Nosso Senhor na mais ousada evangelização cumpriria de fato com a palavra de Deus, desprendendo-se das coisas deste mundo e ligando-se só a Ele!
Sinal de contradição
10 E Jesus disse ainda: “Quando entrardes numa casa, ficai ali até vossa partida. 11 Se em algum lugar não vos receberem, nem quiserem vos escutar, quando sairdes, sacudi a poeira dos pés, como testemunho contra eles!”
Para evitar a seus Apóstolos liames desnecessários, Nosso Senhor também ordena que, uma vez recebidos numa casa, devem ali permanecer até terminar sua atividade no local, esquivando-se à tentação de procurar uma hospedagem mais confortável. Dessa forma, Ele transformava aquela moradia em casa de Deus, por ter acolhido seus emissários.
Se isso acontecia com aqueles que os abrigavam, em sentido oposto e harmônico, aqueles que recusavam a missão profética dos Apóstolos, tornavam-se objeto da rejeição divina, pois o ato simbólico de bater a poeira das sandálias era um sinal claro de maldição, usado quando alguém era maltratado numa cidade alheia.
Como profetas da Nova Aliança, os Apóstolos dividiriam a opinião pública em cada lugar visitado e definiriam os campos ao anunciar a Verdade Absoluta, personalizada no Senhor que os enviara.
A necessidade de sempre confiar em Deus
Terminado esse ciclo de instruções, podemos concluir que o principal ensinamento de Nosso Senhor nele contido é que a condição essencial para a evangelização chama-se confiança: o apóstolo precisa pautar toda a sua ação em função de Deus, e nunca de si mesmo. O Salvador exige-lhe a confiança plena de que Ele jamais o abandonará e o compromisso de restituir inteiramente tudo o que venha a receber. Por ordem de Nosso Senhor, a Providência cuidará de todo o resto.
Se Deus encarrega-Se até dos passarinhos (cf. Mt 6, 26; Lc 12, 6), por que não haveria de assistir os apóstolos que pregam em seu nome?
Sucesso da missão
12 Então os Doze partiram e pregaram que todos se convertessem. 13 Expulsavam muitos demônios e curavam numerosos doentes, ungindo-os com óleo.
Com esse breve vade-mécum apostólico, Nosso Senhor, sabendo que a essência já fora transmitida, lançou os seus nas lides do apostolado, sem sequer dar instruções relativas ao que deveriam dizer!
Os resultados, como indicam esses breves versículos, foram abundantes e, certamente, superaram expectativa dos enviados, ao experimentarem na pele o quanto o poder manifestado por suas obras não era próprio, mas havia sido transferido pelo Divino Mestre, que os escolhera sem qualquer merecimento de sua parte.
III – Profetas e apóstolos do século XXI
Ao ler as considerações contidas neste comentário sobre os profetas, seja os do Antigo Testamento, seja os da Nova Lei, poderíamos cair no erro de julgar que elas em nada concernem a nós, católicos do terceiro milênio. De fato, será que todas as recomendações dadas por Nosso Senhor aos Doze são aplicáveis hoje ao pé da letra? Devemos, então, sair com cajado e uma só túnica, usando como único meio de locomoção umas simples sandálias? Se suas divinas palavras são válidas em todos os tempos, o que queria Ele nos dizer com tudo isso? Nosso Redentor ensina que, em qualquer época, precisamos tomar cuidado com os meios, porque o homem com frequência os constitui como fim.
Por exemplo, a saúde. Esta é um grande meio, em boa parte até imprescindível, para desenvolvermos nosso apostolado junto aos demais. É muito fácil, porém, sobrepô-la ao fim e fazer dela a razão de nossa existência, convertendo-nos assim em modernos adoradores do deus Bios.
Nosso Senhor nos adverte neste Evangelho de que precisamos estar livres de todo e qualquer apego ou preocupação que freie nosso apostolado. Isso não importa em desprezar os meios, muitas vezes necessários, mas em estar alertas para não transformá-los no centro de nossa atenção, nem confundi-los com a graça, esta sim indispensável.
Nós, batizados, estamos inseridos na Igreja, e cada um em seu ambiente, mesmo constituindo família, deve pregar o Evangelho e ser outro apóstolo. Como? Através do nosso comportamento, pela prática da virtude e da piedade, por uma vida cristã que sirva de exemplo aos outros, jamais perdendo uma oportunidade de dizer a verdade, dar um estímulo ou apoio, e empenhando-se para que todos sigam os passos de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Agindo assim, a nós também será conferido o poder de curar enfermos, pois o pecado é uma doença pior que o câncer mais terrível ou a lepra mais horrenda. Ao convidar nosso próximo a se emendar e abraçar a Religião, operamos um milagre maior que sanar uma enfermidade. Do ponto de vista sobrenatural, remediar um mal físico mortal é mais fácil do que restituir a vida de Deus a uma alma que a perdeu!
E acaso não expulsaremos demônios? Sem dúvida! A simples presença de um bom católico, que ruma para a santidade pela oração, vigilância e cumprimento dos Mandamentos da Lei de Deus, tem um poder implacável contra os espíritos impuros.
É imprescindível, ademais, fixar a noção de que quando fazemos algum bem às almas, isso provém, nada mais, nada menos, da união com Nosso Senhor. Como demonstra São Paulo Apóstolo na segunda leitura deste domingo (Ef 1, 3-14), todos os méritos nos vêm d’Ele, pois o Pai nos escolheu e predestinou em função de Cristo “antes da fundação do mundo”. Ele é a nossa força!
Dessa forma, a exemplo do profeta Amós no Reino de Israel, dos Apóstolos enviados em missão pela primeira vez na Galileia, e de todos os profetas e apóstolos ao longo dos séculos, nos tornaremos sinais de contradição para humanidade e abriremos o caminho da salvação para aqueles que tiverem a coragem de romper com os desvios morais de nossa época e aceitar a radicalidade do Evangelho. ◊
Notas
1 GARCÍA CORDERO, OP, Maximiliano. Biblia Comentada. Libros Proféticos. Madrid: BAC, 1961, v.III, p.15.
2 “Quando sairdes de casa, ide juntos; quando chegardes aonde fordes, permanecei também juntos” (SANTO AGOSTINHO. Regula ad servos Dei. P.II, IV, 2. In: Obras Completas. Madrid: BAC, 1995, v.XL, p.570).
3 Cf. Idem, 7-9, p.574; 576.