Os que lutam revestidos com a áurea armadura da fé e munidos com o exercício das virtudes, depois do combate alcançarão a recompensa dos heróis.
Aorigem do Mosteiro de Santa Maria da Vitória, marco do gótico português quatrocentista, remonta a uma promessa feita à Santíssima Virgem por Dom João I, rei de Portugal, e seu condestável São Nuno de Santa Maria Álvares Pereira. Lutavam eles em Aljubarrota, em agosto de 1385, para afirmar ante Castela e Leão a independência do reino lusitano e, embora seus guerreiros se encontrassem em situação de inferioridade diante da poderosa cavalaria rival, o combate desfechou-se numa brilhante vitória.
Fruto do voto feito por eles naquela ocasião, surgiu uma das mais belas, famosas e simbólicas edificações da história portuguesa, hoje conhecida em todas as partes como Mosteiro da Batalha, em alusão a tão importante acontecimento.
Visto em seu conjunto, o prédio parece condensar em seus muros robustos e maciços a pugnacidade de uma geração de guerreiros cheios de fé, destemidos e curtidos em mil pelejas heroicas. A austeridade das formas é realçada pelas dimensões grandiosas e o tom dourado das pedras gastas pelo tempo. A fachada principal revela traços tão marcantes do espírito militar que nos parece ver ali refletida a personalidade de um cavaleiro: equilíbrio, decisão e combatividade…
O pórtico de entrada, entretanto, é mais suave e ladeado por sólidos contrafortes de monumental altura, que manifestam a própria contingência, enquanto conduzem os olhares e o espírito para o alto. O fino rendilhado de seus arcos e colunas atrai o visitante para o interior do beligerante edifício, onde claustros e jardins desvendam o coração contemplativo da construção, habitada durante séculos por religiosos dominicanos.
Há, pois, no Mosteiro da Batalha faíscas de luta renhida e aroma de piedosa contemplação, uma robustez que harmoniza o indestrutível com a delicadeza do ornato. E esta conjunção de opostos que se complementam em perfeita unidade nos convida a nós, homens e mulheres do século XXI, a enfrentarmos as dificuldades diárias, confiando no auxílio da graça.
A história do mosteiro evoca, assim, a esperança no socorro infalível d’Aquela que é Mãe da Divina Graça e que nos trará a vitória. Os que lutam revestidos com a áurea armadura da fé e munidos com o exercício das virtudes, depois do combate alcançarão a recompensa dos heróis: a palma do triunfo, a glória eterna, o reino da bem-aventurança. A estes se poderá dizer: “ainda um pouco de tempo — sem dúvida, bem pouco —, e o que há de vir virá e não tardará. Meu justo viverá da fé. Porém, se ele desfalecer, meu coração já não se agradará dele. Não somos, absolutamente, de perder o ânimo para nossa ruína. Somos de manter a fé, para nossa salvação!” (Hb 10, 37-39). ◊