Quando a dor se apresentar diante de nós, não nos deixemos abater pelo desânimo. Tenhamos em mente a quaresmeira rosada e enfrentemos o sofrimento com a alegria que conduz ao Céu.

 

Entre os diversos símbolos de realidades sobrenaturais postos por Deus na natureza brasileira, nos deparamos com um muito eloquente: as quaresmeiras, árvores cujas flores de tonalidade roxa desabrocham de modo abundante pouco antes da Semana Santa.

Fácil é ver nessas belas plantas a mão do Criador. Elas lembram aos fiéis que chegou a Quaresma, tempo de contrição e conversão caracterizado liturgicamente pelo uso da cor violácea. Contudo, um observador mais atento perceberá que próximo às copas floridas de roxo ou lilás-escuro encontra-se com certa frequência outra variedade de quaresmeira, coberta por flores cor-de-rosa.

Deus não faz nada por acaso. Se os atraentes botões roxos convidam à impostação de alma penitencial que devemos ter nos dias que precedem o Tríduo Pascal, qual será o simbolismo dessas flores rosadas?

Quaresmeiras rosas, da variedade Kathleen – Parque CERET, São Paulo

Bem no meio do Tempo da Quaresma existe um dia reservado para celebrar a alegria: o Domingo Lætare. Nele, o roxo dos paramentos cede lugar ao rosa, a música torna-se mais festiva e as flores voltam a ornar o presbitério. Faz-se uma pausa na penitência, a fim de amenizar a tristeza pelos nossos pecados com a perspectiva da Ressurreição.

Ensina-nos a Santa Igreja neste Quarto Domingo da Quaresma que a dor e o arrependimento devem vir sempre acompanhados da alegria, pois no Sangue de Nosso Senhor ­Jesus Cristo temos a certeza do perdão. Mas não só: a presença do rosa ao lado do roxo convida a nos lembrarmos que nesta vida a felicidade é indissociável da cruz. Para alcançarmos a bem-aventurança eterna, precisamos passar antes por contrariedades, reveses e sofrimentos. Não há maior sinal do amor de Deus para conosco que as provações enviadas por Ele a fim de nos purificar e ­santificar.

“Sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm 8, 28). Por isso, quando a dor bater à porta de cada um de nós, deve desabrochar em nosso coração um sentimento de alegria, tão bem simbolizado pelas quaresmeiras rosas que brotam em meio ao roxo penitencial.

A mais perfeita das meras criaturas, concebida sem pecado e dotada de todos os dons e virtudes, Maria Santíssima, sofreu imensamente nesta vida, a ponto de A chamarmos Corredentora. Exemplo sublime do quanto Deus coroa com a dor aqueles a quem ama com predileção!

Quaresmeiras do jardim da Casa de Formação Thabor – Caieiras (SP)

Como esta verdade dissona dos aforismos pregados pelo mundo, que equiparam a felicidade a um estado de plena satisfação material, isento de qualquer tipo de sofrimento! Entretanto, a única felicidade possível para os homens nesta terra encontra-se no caminho aberto por Nosso Senhor Jesus Cristo com sua Cruz, e ele passa pelo cumprimento do dever e pela aceitação de todas as adversidades, as quais precisam ser abraçadas com entusiasmo, sabendo que nos conduzem ao Céu.

Quando a dor se apresentar diante de nós, não nos julguemos abandonados por Deus nem nos deixemos tomar pelo desânimo. Tenhamos em mente a imagem da quaresmeira rosada em meio às violáceas e enfrentemos o sofrimento com alegria. Estaremos assim preparando nossas almas para o gáudio eterno. 

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