O profundo significado do Batismo de Nosso Senhor nas águas do rio Jordão manifesta a meticulosidade do seu amor por nós.

 

Evangelho da Festa do Batismo do Senhor

“Naquele tempo, 15 o povo estava na expectativa e todos se perguntavam no seu íntimo se João não seria o Messias. 16 Por isso, João declarou a todos: ‘Eu vos batizo com água, mas virá aquele que é mais forte do que eu. Eu não sou digno de desamarrar a correia de suas sandálias. Ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo’.

21 Quando todo o povo estava sendo batizado, Jesus também recebeu o batismo. E, enquanto rezava, o céu se abriu 22 e o Espírito Santo desceu sobre Jesus em forma visível, como pomba. E do céu veio uma voz: ‘Tu és o meu Filho amado, em ti ponho o meu bem-querer’” (Lc 3, 15-16.21-22).

I – A festa da manifestação da divindade

Nos primeiros tempos do Cristianismo, até o século IV, a Igreja contemplava três manifestações da divindade de Nosso Senhor, unidas na Solenidade da Epifania — hoje, 6 de janeiro: a adoração dos Reis Magos, o Batismo no Jordão e a conversão da água em vinho nas Bodas de Caná, seu primeiro milagre público. Era essa solenidade considerada a revelação de Jesus à gentilidade, enquanto o Natal era tido como uma festa mais apropriada aos judeus. Se estes últimos aguardavam a vinda de um Messias Homem e assim O receberam no presépio de Belém, os gentios — tal como nos mostra a adoração dos Magos — estavam à espera de um Deus Salvador. Esta mesma divindade que se revelara aos Reis do Oriente tornar-se-á muito mais notória no episódio do Batismo de Cristo, embora já se houvesse dado a conhecer antes, por um pedido de Nossa Senhora, em Caná.

A comemoração dos três fatos em uma só ocasião era muito solene, e até os dias presentes conservamos na Liturgia alguns resquícios destas grandes celebrações. Tal é a Festa do Batismo do Senhor, que hoje recordamos no Evangelho escolhido para encerrar o Tempo de Natal. Esse acontecimento está intimamente ligado à pessoa do Precursor, São João Batista, pois fora ele chamado a preparar as almas para a vinda do Messias, o qual, ao receber o Batismo, iniciava sua vida pública.

II – Um batismo de penitência

“Naquele tempo, 15 o povo estava na expectativa e todos se perguntavam no seu íntimo se João não seria o Messias”.

Infelizmente pouco se conhece a respeito da infância de São João. Por este motivo, apesar de muitos autores afirmarem sua orfandade quando ainda menino, bem como sua misteriosa partida para o deserto (cf. Lc 1, 80), no qual vivera durante uma boa parte dos trinta anos da vida oculta de Nosso Senhor na casa de Nazaré, disso não existe uma confirmação absoluta. O Precursor irrompeu nos acontecimentos, para surpresa de todos, trajando-se de modo diferente dos padrões da época: uma pele de camelo e um cinto rústico. Seu alimento reduzia-se a gafanhotos e mel silvestre, o que indica ter sido um homem dedicado à penitência. Centenas de anos se haviam passado sem que aparecesse em Israel profeta algum capaz de sacudir o povo. “Faltava entre eles, com efeito, o carisma profético” — afirma São João Crisóstomo —, “e este voltava só agora, depois de séculos. Sua própria maneira de pregar era nova e surpreendente. […] João falava somente a respeito dos Céus, do reino dos Céus e dos castigos do inferno”. 1 Com esta singular forma de pregação ele movia as consciências, contrastando de forma vigorosa com o quadro de apatia e indiferença dos judeus antes de seu surgimento e desagradando ao Sinédrio, fautor de tal situação.

O povo, impressionado com a autoridade moral de São João, logo começou a se perguntar se não seria ele o próprio Messias, tão ansiado pelas almas retas. A resposta negativa do Precursor, meticuloso restituidor em relação a Nosso Senhor Jesus Cristo, foi imediata. A esse respeito comenta Santo Agostinho: “algo de grande é este João, imensa excelência, graça insigne, altíssimo cume. […] Tanta era a grandeza de João que podia fazer-se passar por Cristo; e assim demonstra sua humildade ao dizer que não o era, podendo ter passado como tal. […] O mérito maior de João é […] este ato de humildade”. 2

“Pregação de São João Batista” – Catedral de Colônia (Alemanha)

Um rito ligado a uma missão

16 “Por isso, João declarou a todos: ‘Eu vos batizo com água, mas virá aquele que é mais forte do que eu. Eu não sou digno de desamarrar a correia de suas sandálias. Ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo’”.

Querendo orientar as almas para o Salvador, João logo anunciou o verdadeiro sentido do seu batismo e a dádiva incomparavelmente maior que haveria de trazer o Sacramento a ser instituído por Jesus, algum tempo depois. De fato, pregava ele um batismo que, segundo São Tomás, era um meio caminho entre o que era realizado pelos judeus e o Batismo sacramental. 3 Apesar de não haver na Sagrada Escritura nenhum mandato explícito a respeito do batismo de penitência, pois deveria durar pouco tempo, este rito provinha de Deus, que o recomendara a João em uma revelação privada (cf. Jo 1, 33); entretanto, quanto a seu efeito — a purificação do corpo, e não da alma —, nada se realizava nele que não pudesse ser operado pelo homem, razão pela qual era denominado batismo de João. 4 De fato, apenas teve um ministro, o Precursor.

Para administrá-lo, escolhera as águas do Jordão. Em primeiro lugar porque, diplomaticamente falando, era o lugar ideal. A região da Pereia pertencia à circunscrição de Herodes Antipas e, se bem que o Sinédrio tivesse a obrigação de zelar pela religião no país inteiro, a distância de Jerusalém dificultava que os chefes dos judeus fizessem algo efetivo contra ele. Contudo, como veremos mais adiante, a escolha do local tinha uma razão muito mais profunda, relacionada com o Batismo de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Batismo sobrenatural com efeito psicológico

João pregava a penitência a par de seu batismo, a fim de incitar os homens à virtude. No entanto, esse batismo, de si, não possuía a capacidade de purificar, presente no Sacramento do Batismo; 5 não imprimia caráter, não perdoava os pecados nem conferia a graça, pois, embora inspirado por Deus, era simbólico e seu efeito procedia do homem. Por isso, todos aqueles que foram batizados por São João tiveram de ser batizados de novo pelos Apóstolos (cf. At 19, 3-6).

Sem embargo, pode surgir uma pergunta: qual era, então, a necessidade da instituição desse batismo? São Tomás, fazendo brilhar sua inocência magnífica e cheia de sabedoria, responde dando quatro razões. Na primeira, explica ter sido necessário que Jesus fosse batizado por João para consagrar o Batismo; em segundo lugar, para que Ele Se desse a conhecer por ocasião de seu Batismo; como terceira razão, diz que o batismo de penitência preparava os homens para receber, mais adiante, o Batismo sacramental. E, por fim, ao incentivar o povo à penitência, São João criava disposições para que recebesse com o devido respeito o Batismo de Nosso Senhor Jesus Cristo. 6 Era um batismo que agia à maneira dos sacramentais, 7 pois aqueles que entravam no rio e eram nele submersos sentiam misticamente dentro de si seu duplo efeito: uma ação sobrenatural que os encorajava ao arrependimento dos próprios pecados, e outra psicológica que lhes preparava a mentalidade para a futura aceitação do Batismo.

Podemos inferir com segurança que, apesar de alguns fariseus terem aceitado a pregação de João (cf. Mt 3, 7), a maior parte deles confiava muito na própria justiça, ou seja, eles se julgavam sem pecado, dando pouco crédito à voz do profeta e incluindo-se no rol dos que não se deixaram batizar. Ao contrário destes, soldados, publicanos e toda sorte de pecadores acreditavam em São João (cf. Mt 21, 32). Assim se iam dividindo os campos dentro da própria opinião pública judaica, como vieram a confirmar os acontecimentos posteriores.

O conhecimento místico de Jesus revela a vocação de João

É quase unânime a opinião dos comentaristas de que São João ainda não tinha se encontrado com Nosso Senhor, o qual tampouco havia visto, com seus olhos humanos, o Precursor. Este último, segundo São João Crisóstomo, antes de se dirigir ao Jordão “conheceu-O quando se achava prestes a batizá-Lo, e isto porque o próprio Pai o revelou”. 8 Mesmo sem ter contemplado o rosto do Messias, João possuía a respeito de Jesus um conhecimento místico que lhe dava a capacidade, por exemplo, de manter uma discussão com os fariseus sobre o Salvador, anunciando-O com inegável autoridade (cf. Jo 1, 19-27) e revelando sua própria vocação. Por fim, o ansiado encontro entre o Messias e seu Precursor dar-se-ia no momento auge em que Jesus seria batizado e iniciaria sua missão pública.

Vista do rio Jordão

O Jordão, local mais conveniente para o Batismo de Nosso Senhor

21a “Quando todo o povo estava sendo batizado, Jesus também recebeu o batismo”.

Ora, como vimos, São João escolhera a região do Jordão para ministrar seu batismo, por uma razão de prudência em relação à oposição dos fariseus a tudo aquilo que pudesse abalar o sólido establishment da sociedade judaica de então. Acima de tudo, todavia, chama-nos a atenção o aspecto altamente simbólico do local. O Jordão era o rio que os judeus haviam atravessado ao entrar na Terra Prometida, cujas águas, abertas por Josué com a Arca da Aliança (cf. Js 3, 14-17), separavam a escravidão egípcia da liberdade obtida após os quarenta anos de penitência no deserto. Também o profeta Elias, antes de ser levado no carro de fogo para um lugar desconhecido, lançara seu manto sobre as águas do Jordão para dividi-las, passando à margem oposta sem se molhar, em companhia de Eliseu (cf. II Re 2, 8). Ao regressar, Eliseu cruzou o rio — Elias já havia desaparecido, deixando-lhe seu manto —, mais uma vez ferindo as águas com o manto profético, em nome do “Deus de Elias” (cf. II Re 2, 13-14). De maneira análoga, segundo São Tomás, “o Batismo de Cristo […] introduz-nos no Reino de Deus, simbolizado na Terra Prometida. […] [E] à mesma problemática pertence a divisão das águas do Jordão por Elias, o qual ia ser arrebatado ao Céu num carro de fogo […], pois aqueles que passam pelas águas do Batismo têm aberta a entrada no Céu mediante o fogo do Espírito Santo”. 9 Tais foram os motivos simbólicos que fizeram João escolher essas águas para batizar.

Uma chancela para a missão de João Batista

Ao mesmo tempo, Nosso Senhor era batizado com a intenção de aprovar e confirmar o batismo de São João, dando aval a todos os batismos que haviam sido realizados por ele até aquele momento. Nesse sentido o Batismo de Jesus tem grande importância, pois não se trata de um mero ato simbólico, mas sim de um ato litúrgico praticado pelo próprio Cristo. Uma vez que a missão do Precursor consistia em preparar os caminhos para a vinda do Messias, com a chegada do Salvador o auge do ministério do profeta estava atingido e em breve começaria a diminuir para que Cristo crescesse (cf. Jo 3, 30). Com poesia, diz Tertuliano que “do mesmo modo como a aurora marca o fim da noite e o começo do dia, assim João Batista é o fim da noite da Lei e a aurora do dia evangélico”. 10

“Pregação de São João Batista”, por Domenico Ghirlandaio – Igreja de Santa Maria Novella, Florença (Itália)

Por que Nosso Senhor quis ser batizado?

Não obstante, diante do fato tão grandioso do Batismo de um Deus, se levantam algumas interrogações: por que quis Jesus ser batizado por João? Precisava arrepender-se de algum pecado? Blasfemo seria tal pensamento! Com efeito, o sublime episódio do Batismo de Cristo levou São Bernardo a proclamar: “Porventura o sadio tem necessidade de medicina, ou de limpeza quem já está limpo? De onde há pecado em Vós, para que Vos seja necessário o Batismo? Por acaso de vosso Pai? Pai certamente tendes, mas é Deus, e sois igual a Ele; Deus de Deus, luz da luz. Quem ignora que Deus não pode cair em pecado algum? Acaso de vossa Mãe? Mãe tendes, mas é virgem. Que pecado poderíeis trazer de quem Vos concebeu sem iniquidade, dando-Vos à luz e conservando sua integridade? Que mancha pode ter o Cordeiro sem mácula?”. 11

Sem dúvida Jesus quis recebê-lo por humildade, rebaixando-Se para ser batizado por João, o qual, diante dessa atitude, proclamou: “Eu é que devo ser batizado por Ti, e Tu vens a mim!” (Mt 3, 14). Tal afirmação ajuda-nos a compreender a imensa graça que significou para o Precursor ter batizado Nosso Senhor. E o Doutor Angélico enumera ainda várias razões que indicam a alta conveniência deste misterioso Batismo. 12

Batismo na Catedral de São Paulo

A presença de Nosso Senhor santificou o universo inteiro

Uma das mais belas foi o desejo do Salvador de conferir às águas, em contato com sua Carne adorável — que é divina, embora humana —, a capacidade de purificar, que é a virtude do Batismo. Ao deixar nas águas do Jordão “a fragrância de sua divindade” 13 o Redentor santificou todas as águas do universo, com vistas àqueles que mais tarde receberiam o banho da regeneração. De fato, tudo o que Nosso Senhor Jesus Cristo tocava era tocado pelo próprio Deus.

Ora, se entrando no rio Jordão Jesus santificou as águas do universo inteiro, podemos afirmar, não sem fundamento, que, pisando a terra com seus pés sagrados e regando-a com seu Preciosíssimo Sangue no Calvário, Ele santificou toda a Terra; respirando e sendo elevado no madeiro sagrado, santificou de igual modo o ar. 14 Finalmente, descendo Ele ao Purgatório, 15 santificou também o fogo. Podemos assegurar, portanto, que os quatro elementos resumitivos do universo criado foram santificados pelo simples contato com Ele. Devemos, pois, ter sempre a noção clara de que a presença do verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, neste mundo, mudou a face da Terra.

Jesus lavou nas águas os nossos pecados

Cristo não precisava ser batizado, pois fora Ele quem, inspirando São João, instituíra este rito, mas “o batismo tinha necessidade do poder de Jesus”. 16 Desde toda a eternidade o Verbo conheceu com perfeição, em sua própria essência divina, cada um de nós, com nossos pecados, misérias e insuficiências. Sendo Deus, Ele podia limpar a Terra por um simples ato de sua vontade; contudo, preferiu Ele mesmo, o Inocente, livre de qualquer nódoa, assumir uma carne “semelhante à do pecado” (Rm 8, 3). Quis ser batizado, então, não “para ser purificado, mas para purificar”, 17 submergindo consigo, na água batismal, todo o velho Adão. 18 Devemos considerar que se existisse uma humanidade infinita, com infinitos pecados, Ele os teria carregado sobre Si, lavando-os naquele momento nas águas do Jordão.

A divina atitude do Salvador deveria nos inspirar profunda confiança, pois, embora sejamos réus de culpa, “o dom de Deus e o benefício da graça obtida por um só homem, Jesus Cristo, foram concedidos copiosamente a todos” (Rm 5, 15). De fato, sendo Ele a Cabeça do Corpo Místico, d’Ele partem e são distribuídas as graças para todos os membros.

Por fim, com seu Batismo, quis abrir-nos um caminho e estimular-nos a compreender a importância deste Sacramento. 19

A capital importância de uma oração feita no Jordão

21b “E, enquanto rezava…”.

À vista de tais maravilhas, podemos sem dúvida alguma imaginar que Jesus tenha feito uma oração belíssima naquele momento grandioso de sua submersão nas águas do Jordão. Só a conheceremos, porém, no dia em que entrarmos na eternidade, na visão de Deus face a face. Por enquanto apenas apreciamos os efeitos imediatos por ela produzidos.

“A glória do Espirito Santo” – Museu de Arte Sacra, Rio de Janeiro

21c “…o céu se abriu…”.

Uma superficial análise desta breve frase do Evangelho poderia levar-nos a julgar que, no grandioso episódio do Batismo, o Céu se abrira para o Espírito Santo descer. Entretanto isto não era necessário. 20 Na realidade, o sentido mais importante destas palavras se refere a uma realidade superior. Pela Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo foram abertas para a humanidade as portas do Céu, que permaneciam fechadas desde a expulsão de Adão e Eva do Paraíso Terrestre por causa do pecado. Mas como isso se aplica a cada um individualmente no Batismo sacramental instituído por Nosso Senhor, era mais conveniente esta referência à abertura do Céu no instante em que Cristo foi submerso por São João nas águas do Jordão. 21

Manifestaram-se, assim, os elementos que pertencem à eficácia desse Sacramento. Tal como os Céus se abriram nessa hora, seria a virtude celestial, explica São Tomás, que santificaria o Batismo, nos tornaria capazes, pela fé, de ver as coisas celestes e ainda, como foi dito acima, nos abriria as portas do Céu. Por fim, para entendermos que só é possível cruzar estes umbrais pelo poder e pela força da oração, tudo ocorreu “enquanto rezava”, conforme indica o versículo. 22

Primeira manifestação da Santíssima Trindade

22a “…e o Espírito Santo desceu sobre Jesus em forma visível, como pomba”.

Desde toda a eternidade Deus concebeu a pomba com o intuito de, em determinado momento, vir a representar a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade. São Cipriano afirma ser esta uma ave peculiar por estar sempre cheia de serenidade, nunca usar o bico com o intuito de ferir alguém e ser doméstica, a ponto de, ao dar cria, permanecer com seus filhotes em família e em um mesmo lugar. 23 Ademais, não é assustadiça e se deixa dominar pelo homem com mansidão. São Tomás declara que o Espírito Santo escolheu a forma de pomba para aparecer após o Batismo de Nosso Senhor, entre outras razões, a fim de significar que devemos nos aproximar do Batismo com simplicidade e sem fingimento. 24

A figura da pomba era conveniente, portanto, para nos fazer compreender que, havendo sido batizados e transformados em templos do Espírito Santo, temos a necessidade única de conservar esse templo da alma com a simplicidade e a candura da pomba, isto é, na inocência.

22b “E do céu veio uma voz: ‘Tu és o meu Filho amado, em ti ponho o meu bem-querer’”.

Cena magnífica, que torna público e manifesto, pela primeira vez na História, o mistério da Santíssima Trindade. O Pai, fazendo ouvir sua voz, e o Espírito Santo, tornando-Se visível em forma de pomba, dão testemunho da divindade de Cristo. Com efeito, “o Pai é invisível. Mas o Filho é igualmente invisível na sua divindade, uma vez que ‘ninguém jamais viu a Deus’ (Jo 1, 18); pois sendo o Filho também Deus, enquanto Deus não se pode ver o Filho n’Ele. Porém, quis Ele mostrar-Se num corpo; e como o Pai não tem corpo, quis provar que Se encontra presente no Filho, ao dizer: ‘Tu és meu Filho, em ti me comprazo’. […] O poder de uma divindade sem diferença faz com que não exista diversidade entre o Pai e o Filho, mas indica que o Pai e o Filho têm parte num mesmo poder. Creiamos no Pai, cuja voz os elementos deixaram ouvir; creiamos no Pai, a cuja voz os elementos emprestaram seu ministério”. 25

“Batismo de Jesus” – Paróquia de Nossa Senhora da Consolação, Coney Island, Nova York

III – Saibamos ser gratos a Deus!

“O Batismo é esplendor das almas, transformação de vida, […] é ajuda à nossa fragilidade. […] O Batismo é veículo que conduz a Deus, peregrinação junto a Cristo, apoio da fé, perfeição da mente, chave do Reino dos Céus, mudança de vida, destruição da escravidão e libertação das amarras”, 26 ensina São Gregório Nazianzeno. A Festa do Batismo do Senhor deve inundar-nos de esperança e de santa alegria, por nos mostrar a força regeneradora do perdão e da misericórdia divina, na qual devemos confiar em qualquer circunstância de nossa vida. Por pior que possa vir a ser nossa situação, se soubermos ter fé e nos mantivermos íntegros no cumprimento dos santos Mandamentos, nunca deixará de haver para tudo uma solução, pois “para Deus nada é impossível!” (Lc 1, 37). Sejamos gratos a Nosso Senhor por tudo quanto realizou por nós.

Com o Batismo Jesus dá início à sua vida pública, assim como com esta celebração a Liturgia marca a entrada no Tempo Comum, o qual considerará toda a missão do Divino Mestre, acompanhando-O em suas pregações e manifestações durante as diversas leituras litúrgicas do ano. Tendo contemplado as maravilhas deste trecho do Evangelho, peçamos a Nosso Senhor graças em profusão, capazes de nos fazer cruzar — no fim de nossa peregrinação terrena — as portas do Céu que Ele nos franqueou neste dia magnífico. 

 

Notas

1 SÃO JOÃO CRISÓSTOMO. Homília X, n.5. In: Obras. Homilías sobre el Evangelio de San Mateo (1-45). 2.ed. Madrid: BAC, 2007, v.I, p.191.
2 SANTO AGOSTINHO. In Ioannis Evangelium. Tractatus II, n.5; Tractatus IV, n.3; n.6. In: Obras. 2.ed. Madrid: BAC, 1968, v.XIII, p.94; 128; 132.
3 Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. III, q.38, a.1, ad 1.
4 Cf. Idem, a.2.
5 Cf. Idem, a.3.
6 Cf. Idem, a.1.
7 Cf. Idem, ad 1.
8 SÃO JOÃO CRISÓSTOMO. Homilía XVII, n.3. In: Homilías sobre el Evangelio de San Juan (1-29). 2.ed. Madrid: Ciudad Nueva, 1991, v.I, p.220.
9 SÃO TOMÁS DE AQUINO, op. cit., q.39, a.4.
10 TERTULIANO. Adversus Marcionem. L.IV, c.33, apud BARBIER, SJ, Jean-André (Org.). I Tesori di Cornelio a Lapide. 4.ed. Torino: Società Internazionale, 1948, v.II, p.160.
11 SÃO BERNARDO. Sermones de Tiempo. En la Epifanía del Señor. Sermón I, n.6. In: Obras Completas. Madrid: BAC, 1953, v.I, p.314.
12 Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO, op. cit., q.39, a.1.
13 SÃO CIRILO DE JERUSALÉM. Catechesis Mystagogica III, n.1: MG 33, 1087.
14 Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO, op. cit., q.46, a.4.
15 Cf. Idem, q.52, a.2.
16 SÃO JOÃO CRISÓSTOMO. Homilía XVII, n.2. In: Homilías sobre el Evangelio de San Juan (1-29), op. cit., p.218.
17 SÃO TOMÁS DE AQUINO, op. cit., q.39, a.1, ad 1.
18 Cf. SÃO GREGÓRIO NAZIANZENO. Homilía XXXIX, n.17. In: Homilías sobre la Natividad. 2.ed. Madrid: Ciudad Nueva, 1992, p.86.
19 Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO, op. cit., q.39, a.1.
20 Cf. Idem, a.5, ad 2.
21 Cf. Idem, a.5.
22 Cf. Idem, ibidem.
23 Cf. SÃO CIPRIANO. De la unidad de la Iglesia, n.9. In: Obras. Madrid: BAC, 1964, p.151.
24 Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO, op. cit., q.39, a.6, ad 4.
25 SANTO AMBRÓSIO. Tratado sobre el Evangelio de San Lucas. L.II, n.94-95. In: Obras. Madrid: BAC, 1966, v.I, p.144-145.
26 SÃO GREGÓRIO NAZIANZENO. Homilía XL, n.3. In: Homilías sobre la Natividad, op. cit., p.96-97.

 

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Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP, é fundador dos Arautos do Evangelho.

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