Também nós, com Santa Teresa do Menino Jesus, deveríamos poder repetir todos os dias ao Senhor que queremos viver de amor a Ele e aos outros, aprender na escola dos Santos a amar de modo autêntico e total.
Gostaria de vos falar hoje de Santa Teresa de Lisieux. Teresa do Menino Jesus e da Sagrada Face, que viveu neste mundo só vinte e quatro anos, no final do século XIX, levando uma vida muito simples e no escondimento, mas que, depois da morte e da publicação dos seus escritos, se tornou uma das Santas mais conhecidas e amadas. […]
A “pequena Teresa” nunca deixou de ajudar as almas mais simples, os pequeninos, os pobres e os sofredores que lhe rezam, mas iluminou também toda a Igreja com a sua profunda doutrina espiritual, a ponto que o Venerável Papa João Paulo II, em 1997, quis atribuir-lhe o título de Doutora da Igreja, além do de Padroeira das Missões, que já lhe tinha sido atribuído por Pio XI em 1927. […]
Ser o amor no coração da Igreja
O seu nome de religiosa – Ir. Teresa do Menino Jesus e da Sagrada Face – expressa o programa de toda a sua vida, em comunhão com os Mistérios centrais da Encarnação e da Redenção. A sua profissão religiosa, na festa da Natividade de Maria, a 8 de setembro de 1890, é para ela um verdadeiro matrimônio espiritual na “pequenez” evangélica, caracterizada pelo símbolo da flor: “Que festa bonita a Natividade de Maria para se tornar esposa de Jesus” – escreve – “Era a pequena Virgem Santa de um dia que apresentava a sua pequena flor ao pequeno Jesus”.
Para Teresa ser religiosa significa ser esposa de Jesus e mãe das almas. No mesmo dia, a Santa escreve uma oração que indica toda a orientação da sua vida: pede a Jesus o dom do seu Amor infinito, para ser a mais pequena, e sobretudo pede a salvação de todos os homens: “Que nenhuma alma seja danada hoje”.
De grande importância é a sua Oferta ao Amor Misericordioso, feita na festa da Santíssima Trindade de 1895: uma oferenda que Teresa partilha imediatamente com as suas irmãs de hábito, sendo já vice-mestra das noviças.
Dez anos depois da “Graça de Natal”, em 1896, vem a “Graça de Páscoa”, que abre a última fase da vida de Teresa com o início da sua paixão em profunda união com a Paixão de Jesus; trata-se da paixão do corpo, com a doença que a levará à morte através de grandes sofrimentos, mas sobretudo trata-se da paixão da alma, com uma dolorosíssima prova da fé.
Com Maria ao lado da Cruz de Jesus, Teresa vive então a fé mais heroica, como luz nas trevas que lhe invadem a alma. A carmelita tem a consciência de viver esta grande prova para a salvação de todos os ateus do mundo moderno, por ela chamados “irmãos”. Vive então ainda mais intensamente o amor fraterno: para com as irmãs da sua comunidade, para com os seus dois irmãos espirituais missionários, para com os sacerdotes e todos os homens, sobretudo os mais distantes. Torna-se deveras uma “irmã universal”!
A sua caridade amável e sorridente é a expressão da alegria profunda da qual nos revela o segredo: “Jesus, a minha alegria é amar-Te”. Neste contexto de sofrimento, vivendo o maior amor nas mais pequenas coisas da vida cotidiana, a Santa realiza a sua vocação de ser o Amor no coração da Igreja.
Aprender a amar na escola dos Santos
Teresa faleceu na noite de 30 de setembro de 1897, pronunciando as simples palavras “Meu Deus, amo-Te!”, olhando para o crucifixo que estreitava nas suas mãos. Estas últimas palavras da Santa são a chave de toda a sua doutrina, da sua interpretação do Evangelho. O ato de amor, expresso no seu último suspiro, era como que o contínuo respiro da sua alma, como o pulsar do seu coração. As simples palavras “Jesus, amo-Te” estão no centro de todos os seus escritos. O ato de amor a Jesus imerge-a na Santíssima Trindade. Ela escreve: “Ah, Tu sabes, amo-Te Menino Jesus, / O Espírito de Amor inflama-me com o seu fogo. / É amando-Te que eu atraio o Pai”.
Queridos amigos, também nós com Santa Teresa do Menino Jesus deveríamos poder repetir todos os dias ao Senhor que queremos viver de amor a Ele e aos outros, aprender na escola dos Santos a amar de modo autêntico e total. Teresa é um dos “pequeninos” do Evangelho que se deixam conduzir por Deus às profundezas do seu mistério. Uma guia para todos, sobretudo para aqueles que, no povo de Deus, desempenham o ministério de teólogos. Com a humildade e a caridade, a fé e a esperança, Teresa entra continuamente no coração da Sagrada Escritura que encerra o mistério de Cristo.
E esta leitura da Bíblia, alimentada pela ciência do amor, não se opõe à ciência acadêmica. De fato, a ciência dos Santos, da qual ela mesma fala na última página da História de uma alma, é a ciência mais nobre: “Todos os Santos o compreenderam e de modo mais particular talvez os que encheram o universo com a irradiação da doutrina evangélica. Não é porventura da oração que os Santos Paulo, Agostinho, João da Cruz, Tomás de Aquino, Francisco, Domingos e muitos outros ilustres Amigos de Deus se inspiraram nesta ciência divina que fascina os maiores gênios?”
Inseparável do Evangelho, a Eucaristia é para Teresa o Sacramento do Amor Divino que se abaixa ao extremo para se elevar até Ele. […]
“Confiança e amor” iluminaram o seu caminho
No Evangelho, Teresa descobre sobretudo a misericórdia de Jesus, a ponto de afirmar: “A mim Ele deu a sua misericórdia infinita, através dela contemplo e adoro as outras perfeições divinas! […] Então todas me parecem resplandecentes de amor, a própria justiça (e talvez ainda mais do que qualquer outra) me parece revestida de amor”.
Assim se expressa também nas últimas linhas da História de uma alma: “Um só olhar ao Santo Evangelho, imediatamente respiro os perfumes da vida de Jesus e sei para onde correr… Não é para o primeiro lugar, mas para o último que me oriento… Sim, sinto-o, mesmo se tivesse na consciência todos os pecados que se podem cometer, iria, com o coração despedaçado pelo arrependimento, lançar-me entre os braços de Jesus, porque sei quanto ama o filho pródigo que volta a Ele”.
“Confiança e amor” são portanto o ponto final da narração da sua vida, duas palavras que como faróis iluminaram todo o seu caminho de santidade, para poder guiar os outros pela sua mesma “pequena via de confiança e de amor” da infância espiritual. Confiança como a do menino que se abandona nas mãos de Deus, inseparável do compromisso forte e radical do verdadeiro amor, que é dom total de si, para sempre, como diz a Santa contemplando Maria: “Amar é dar tudo, e dar-se a si mesmo”.
Assim Teresa indica a todos nós que a vida cristã consiste em viver plenamente a graça do Batismo na doação total de si ao Amor do Pai, para viver como Cristo, no fogo do Espírito Santo, o seu mesmo amor por todos os outros. ◊
Bento XVI. Excertos da
Audiência geral, 6/4/2011