A miraculosa cura do cego Bartimeu nos ensina o quanto a fonte da verdadeira felicidade encontra-se no ver com os olhos da fé.

 

Evangelho do XXX Domingo do Tempo Comum

Naquele tempo, 46 Jesus saiu de Jericó, junto com seus discípulos e uma grande multidão. O filho de Timeu, Bartimeu, cego e mendigo, estava sentado à beira do caminho. 47 Quando ouviu dizer que Jesus, o Nazareno, estava passando, começou a gritar: “Jesus, Filho de Davi, tem piedade de mim!” 48 Muitos o repreendiam para que se calasse. Mas ele gritava mais ainda: “Filho de Davi, tem piedade de mim!” 49 ­Então Jesus parou e disse: “Chamai-o”. Eles o chamaram e disseram: “Coragem, levanta-te, Jesus te chama!” 50 O cego jogou o manto, deu um pulo e foi até Jesus. 51 Então Jesus lhe perguntou: “O que queres que Eu te faça?” O cego respondeu: “Mestre, que eu veja!” 52 Jesus disse: “Vai, a tua fé te curou”. No mesmo instante, ele recuperou a vista e seguia Jesus pelo caminho (Mc 10, 46-52).

I – Fim do cativeiro do pecado, pelo oferecimento do Sacerdote Eterno

Na primeira leitura deste 30º Domingo do Tempo Comum (Jr 31, 7-9), Jeremias, habitualmente profeta de calamidades, manifesta-se como profeta da ressurreição, da glória e do triunfo, ao anunciar para o povo eleito a suspensão do cativeiro na Babilônia. Entretanto, embora preveja os acontecimentos futuros, ele não consegue interpretar o sentido mais profundo do que diz.

Ao prognosticar a volta dos judeus que estavam no exílio à vida em liberdade, traça sem saber uma pré-figura da grande libertação trazida tempos depois por Nosso Senhor Jesus Cristo. Redimida a humanidade das garras de satanás e do pecado, encerra-se o império do mal que estadeava na terra durante o Antigo Testamento. Por isso afirma o profeta: “Exultai de alegria por Jacó, aclamai a primeira das nações; tocai, cantai e dizei: ‘Salva, Senhor, teu povo, o resto de Israel’. Eis que Eu os trarei do país do Norte e os reunirei desde as extremidades da terra; entre eles há cegos e aleijados, mulheres grávidas e parturientes: são uma grande multidão os que retornam” (Jr 31, 7-8). O povo do Senhor a que se refere Jeremias não se restringe aos judeus desterrados na Babilônia, o “país do Norte”, mas abarca toda a humanidade que esperava a salvação.

Do mesmo modo, nos termos “cegos e aleijados” há um claro conteúdo simbólico. Cegos são aqueles que têm a alma fechada para o sobrenatural, cegueira pior que a da vista, e aleijados são os que carecem de vontade para praticar a virtude e vivem fora do estado de graça. A esses o Senhor promete: “Eles chegarão entre lágrimas e Eu os receberei entre preces” (Jr 31, 9), tal como se deu quando Nosso Senhor veio à terra, pois Ele sozinho carregou-nos todos aos ombros, deixando nossas misérias para trás.

Com efeito, como ensina São Paulo na segunda leitura (Hb 5, 1-6), o Divino Salvador tornou-Se nosso intercessor, Sacerdote Eterno, intermediário entre Deus e os homens. Para esse sagrado ofício, Ele não foi tirado da raça de ­Aarão, a estirpe sacerdotal do Antigo Testamento, e sim da descendência de Davi, mostrando que seu sacerdócio não vem do sangue mas do Pai, que Lhe diz: “Tu és o meu Filho, eu hoje Te gerei” (Hb 5, 5). A fim de nos representar diante de Deus, participa de todas as misérias da natureza humana, exceção feita do pecado; enquanto Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, porém, suas palavras são lei e possui pleno poder para perdoar nossas transgressões. Sacerdote por excelência, permanece eternamente à direita do Pai rogando para que nos convertamos e peçamos perdão, quando mereceríamos ser castigados por tê-Lo abandonado.

As duas leituras, portanto, nos levam a considerar o quanto Deus quer com amor infinito a nossa salvação, como veremos no episódio cheio de vida e profundos ensinamentos narrado no Evangelho deste domingo, que passamos agora a analisar.

II – Cegueira física numa alma luminosa

Nosso Senhor subia para Jerusalém, tendo já declarado que ali seria preso, julgado pelo Sinédrio e condenado à morte de Cruz, mas ressuscitaria ao terceiro dia. Apesar desse anúncio, realizado claramente por três vezes, os Apóstolos não assimilaram suas divinas palavras, pois um problema de fé os impedia: eles criam muito mais na visão humana das coisas que nas indicações do Mestre. Desviados os olhos das realidades da fé, tinham-nos postos na situação política e na perspectiva de recuperar a supremacia dos judeus neste plano terreno, como bem o mostra o Evangelho do domingo anterior, no qual São Tiago e São João manifestavam sua preocupação com a posição que ocupariam num ­eventual governo temporal de Jesus (cf. Mc 10, 35-45).

Cura do cego Bartimeu – Biblioteca do Mosteiro de Yuso, San Millán de la Cogolla (Espanha)

O Salvador não conseguia convencê-los porque, na imagem que formavam a respeito d’Ele, a parte humana sufocava a divina. Sem atinar para a Paixão que se aproximava, eles se ­detinham na expectativa do Domingo de Ramos, anelado como um acontecimento político-social que anteciparia o golpe para tomar conta do poder como rei de Israel.

Nessas circunstâncias, um cego lhes aparece no caminho. É este um fato simbólico, uma vez que nada do sucedido em torno de Nosso Senhor apresenta apenas um significado. Pelo contrário, tal é a sua multiplicidade que, no Céu, passaremos a eternidade inteira aprofundando o sentido dos episódios narrados no Evangelho, ao mesmo tempo que contemplaremos aspectos inéditos em Deus a cada momento pois, na visão beatífica, d’Ele se conhece tudo, mas não totalmente.

A cegueira física é terrível e, entre seus aspectos mais pungentes, está a constante dependência em relação aos outros, já que o cego carece da luz necessária para guiar-se por si mesmo. Algo disso podemos experimentar quando nos encontramos em meio às trevas, como aconteceria, por exemplo, se em um percurso de automóvel numa estrada sem pavimentação, durante uma noite escura, o sistema elétrico do veículo entrasse em pane. Ora, o cego vive permanentemente nessa situação: as trevas lhe acompanham por toda parte e ele não sabe com certeza o que o circunda!

No caso do Evangelho, porém, o pobre homem tinha uma grande vantagem sobre os afortunados que acompanhavam Nosso Senhor. Na escuridão de suas vistas e afastado do convívio social, ele se mantinha completamente alheio às urdiduras do jogo político que tanto atraía a atenção dos outros. Desse modo, em vários pontos sua alma estava pronta para um encontro com o Divino Mestre.

Um cego conhecido desde toda a eternidade

Naquele tempo, 46 Jesus saiu de Jericó, junto com seus discípulos e uma grande multidão. O filho de Timeu, Bartimeu, cego e mendigo, estava sentado à beira do caminho.

Nosso Senhor partiu de Jericó acompanhado por enorme quantidade de gente, o que indica que sua passagem por essa cidade produzira um forte movimento de opinião pública. Os Evangelistas são muito sucintos e sua redação não dá margem para exageros. O uso da expressão “grande multidão” mostra que Jesus atraía muitas pessoas atrás de Si, as quais, evidentemente, ajustavam suas reações em função d’Ele.

Não muito distante da porta de Jericó, achava-se à beira do caminho um cego, provavelmente de nascença, cujo nome era Bartimeu, ou seja, filho de Timeu. Quem foi Timeu? São Marcos talvez o soubesse. Seu descendente, porém, que nunca estivera com Nosso Senhor nem sequer fora visto por Ele com os olhos humanos, era conhecido pelo Homem-Deus desde toda a eternidade e seu nome passou para a História.

Por causa da numerosa turba ávida da presença de Nosso Senhor, o cego logo percebeu que havia uma movimentação incomum. Naquela época, a situação trágica de não enxergar acarretava a impossibilidade de trabalhar e, portanto, de obter por si os meios de subsistência. O recurso mais comum era impressionar a compaixão dos outros, a fim de receber esmolas para viver. Embora habitualmente se tratasse os mendigos com desprezo, Bartimeu pensou em aproveitar a grande afluência de pessoas para granjear com mais facilidade algum dinheiro.

Vista geral da Jericó atual e das ruínas da cidade antiga

Um encontro há muito esperado

47 Quando ouviu dizer que Jesus, o Nazareno, estava passando, começou a gritar: “Jesus, Filho de Davi, tem piedade de mim!”

Como costuma acontecer com quem perde a visão, Bartimeu tinha mais aguçados os outros sentidos, especialmente a audição, e sem dúvida já ouvira falar de Nosso Senhor, dos seus inéditos ensinamentos e dos prodígios por Ele operados. Entusiasmado com esse novo Profeta, ia crescendo na fé cada vez que lhe chegava algum dado sobre Ele, à semelhança do que ocorre com os músculos de um recém-nascido, os quais ficam mais fortes conforme este se alimenta. Consciente de que a única solução para o seu caso era um milagre, o desejo de se encontrar com aquele Homem se tornava sempre mais veemente…

A multidão avançava mais ou menos silenciosa, pois certamente Nosso Senhor ia conversando pelo caminho e ninguém queria perder suas santas palavras. Bartimeu pôde então ouvir que era Jesus quem passava. Isso foi suficiente para ele começar a gritar. Se a cegueira o impedia de saber com precisão onde estava o Mestre, sua presença era acusada por um tropel mais intenso, que fazia o cego perceber sua proximidade. Quiçá ele distinguisse no meio da multidão uma voz majestosa, grave e cheia de inflexões, a qual lhe indicava tratar-se d’Aquele que com tanta fé esperara.

Sem enxergar, reconhece o Messias

48 Muitos o repreendiam para que se calasse. Mas ele gritava mais ainda: “Filho de Davi, tem piedade de mim!”

É interessante notar que Bartimeu fora avisado da chegada de Nosso Senhor enquanto “o Nazareno”, título um tanto depreciativo devido à pequenez e irrelevância da cidadezinha de Nazaré, pouco conceituada mesmo entre os galileus (cf. Jo 1, 45-46). Entretanto, ele aplica ao Divino Redentor o apelativo de “Filho de Davi”, próprio ao Messias, sinal de que já acreditava na missão de Jesus. Ademais, para ele a perspectiva de Israel estar acima dos outros povos e de o Messias ser um grande caudilho temporal nada significava, pois, isolado como vivia, não entrava nessas divagações puramente terrenas a respeito do Esperado das Nações. Esse ato de fé livre de considerações humanas dava, portanto, maior valor a seu pedido.

Paradoxalmente, como os Apóstolos possuíam uma visualização messiânica distorcida, conforme se mencionou acima, não queriam que aquele elogio viesse de alguém tido como um pobre coitado, sem qualquer projeção na sociedade israelita, um desprezado! Se fosse uma pessoa de influência religiosa ou social junto ao povo, aí sim, julgariam ideal…

Por essa razão Nosso Senhor sempre reprimia os que aclamavam-No como Messias. A concepção completamente equivocada dos judeus dava a esta figura um cunho político, com o qual não desejava ser confundido. Por outro lado, assim Ele evitava também acirrar o ódio dos fariseus antes do tempo determinado pelo Pai.

Desta vez, porém, como subia pela última vez a Jerusalém para ser morto, não mais havia necessidade de tal prudência e Jesus deixou Bartimeu se manifestar. Seus primeiros brados devem ter causado espécie na multidão e feito com que lhe passassem o recado de se calar. Pouco se importando com o instinto de sociabilidade, ele “gritava mais ainda”, pois estava tomado pelo desejo da cura e, cheio de fé e ardor de alma, acreditava que Nosso Senhor podia atendê-lo.

Jesus cura um cego de nascença – Igreja do Espírito Santo em Sassia, Roma

Um ato de entrega formal a Jesus

49 Então Jesus parou e disse: “Chamai-o”. Eles o chamaram e disseram: “Coragem, levanta-te, Jesus te chama!” 50 O cego jogou o manto, deu um pulo e foi até Jesus.

Contrariamente ao esperado, Nosso Senhor manda chamar o cego que O proclamava Filho de Davi. No mesmo instante deve ter se formado um corredor e, enquanto a multidão olhava com curiosidade, criou-se um suspense. Os acompanhantes, percebendo que precisavam se conformar com os desejos do Mestre, avisaram-no para que aproximasse. Quiçá alguns pensassem que o Redentor repreenderia o pobre cego…

Deu-se então uma bonita cena. Ao ser chamado, Bartimeu não pensou duas vezes: tirou o manto e, com um salto, dirigiu-se até Jesus. Se o intuito prático desse gesto talvez fosse andar mais depressa, o certo é que ele encerra um alto simbolismo. O que devia ser o manto de um cego esmoler? Contudo, essa era sua única ­riqueza… nada mais possuía. E ele deixou esse pouco, pois poderia atrapalhá-lo. Queria comparecer perante Nosso Senhor com humildade e sem amarras. Mais ainda: quando alguém porta um manto, está apto para ser servido e não para servir. Assim, ao retirar essa prenda, exprimia seu desejo de dedicar-se por inteiro Àquele que tinha diante de si.

O manto, portanto, significava o homem velho, o apego aos próprios interesses e egoísmos, enquanto o salto mostrava a disposição de deixar tudo de lado e correr para junto do Senhor. É d’Ele que precisamos nos aproximar, sem esperar sequer que venha até nós.

Ver com os olhos a quem já via com o coração

51 Então Jesus lhe perguntou: “O que queres que Eu te faça?” O cego respondeu: “Mestre, que eu veja!”

Já próximo de Nosso Senhor, Bartimeu deve ter se ajoelhado e, com as mãos postas, ­gritado ainda uma vez: “Jesus, Filho de Davi, tem piedade de mim”. Então o Salvador o interrogou sobre seu desejo, embora o conhecesse desde toda a eternidade. Nessa hora, outros talvez Lhe pediriam: “Senhor, tomai conta do poder e resolvei os problemas da nação. Realizai vosso plano como Messias”… quando, na realidade, ansiavam por concretizar os planos próprios.

São Tomás de Aquino escrevendo sob inspiração do Espírito Santo – Mosteiro da Anunciação, Alba de Tormes (Espanha)

De forma bem diferente, o cego não mais O chama de Filho de Davi mas de Mestre, indicando que estava ali para acatar sua autoridade enquanto discípulo, e roga-Lhe com ousadia: “Que eu veja! – Ut videam!” Essas palavras permitem pensar que ele era cego de nascença, pois não diz: “Que eu volte a ver”.

52 Jesus disse: “Vai, a tua fé te curou”. No mesmo instante, ele recuperou a vista e seguia Jesus pelo caminho.

A resposta de Nosso Senhor antes de outorgar a vista a Bartimeu traz uma importante lição. Deus dispõe de infinito poder para nos atender, mas ordinariamente Ele coloca uma condição: crer. E por isso diz: “A tua fé te curou”.

Belíssima foi a reação do fervoroso cego. Uma vez curado, não abandonou Nosso Senhor para buscar seus parentes ou apreciar os panoramas que todos comentavam serem muito bonitos. Nem se dirigiu à casa de algum amigo ou saiu à procura de um emprego, a fim de se sustentar. Nada disso o preocupou! Ele permaneceu junto a Jesus. Isso mostra que no fundo da alma seu desejo não era apenas de ver, mas sim de ver a Nosso Senhor. Suas vistas carnais deram-lhe uma noção clara do que já contemplara com o coração. Antes de ver com os olhos, havia se entusiasmado pelo Mestre e se fixado n’Ele. Agora que a visão externa acompanhava o interior e podia se deslocar sozinho, Bartimeu deixa tudo. Não está dito sequer que tenha voltado para apanhar o manto. Nosso Senhor retomou a jornada e ele O “seguia pelo caminho”.

Eis o que nós devemos fazer quando recebemos o milagre da graça em nosso interior: deixar tudo e seguir o Bom Jesus em seu caminho.

III – Cegos, imitemos o exemplo de Bartimeu

Ao considerar o prodígio operado em Bartimeu não é difícil compreender o quanto a cegueira espiritual resulta pior que a cegueira física. Entre sermos cegos fervorosos, como ele o era, ou possuirmos vistas estupendas mas pouca fé, devemos preferir a primeira situação, pois quem tem fé, mesmo que nada enxergue nesta terra com os olhos da carne, gozará da perfeita visão no Céu.

Essa realidade pode se tornar mais clara se, nesse edificante episódio evangélico, imaginarmos um outro personagem que São Marcos não descreveu. Possuiria ele não só uma vista excelente, mas ainda todo tipo de riquezas. Contudo, quando Nosso Senhor atendesse Bartimeu, se irritaria com essa deferência e, pior, ao presenciar o milagre logo julgaria tratar-se de uma farsa. Por semelhante atitude, as palavras “Vai, a tua fé te curou!” soariam aos seus ouvidos como: “Vai, a tua revolta te arrasou!” E, pouco depois, ele ficaria cego! Sim, nessa hipotética cena, aquele que via e desfrutava de muitos bens tornar-se-ia cego, e o que era cego passaria a ver. Isso se daria em função da fé pois, para atingir o ponto onde chegaram, ambos teriam percorrido um longo processo, talvez de anos, de decadência ou de cultivo dessa virtude.

Tal consideração nos conduz a uma pergunta: estaremos nós no processo de Bartimeu ou no do personagem imaginário? Se nossa visualização das coisas não leva em conta a eternidade, ela não passa de escuridão.

Jesus abençoando – Sainte-Chapelle, Paris

Explica São Tomás1 que, sendo Deus sumamente visível, nós não O vemos por uma insuficiência de nossos sentidos, incapazes de alcançar a altíssima, perfeita e essencial natureza d’Ele. Somos em face do Criador como morcegos em relação ao Sol, que não têm vistas para enxergá-lo mas apenas antenas. Estas atuam de modo semelhante à nossa fé. Embora cegos de Deus nesta vida, mediante a fé nós O conhecemos às apalpadelas. Quando formos para o Céu, ela desabrochará em visão e O contemplaremos na própria luz d’Ele.

Enquanto isso não ocorre, devemos proceder como Bartimeu. Este não via Nosso Senhor com os olhos carnais, mas dava valor ao que conhecia a respeito d’Ele a ponto de constituir uma visualização sobre o Messias mais acertada que a de muitos de seus discípulos. Da mesma forma, quem nesta vida ama a luz plena que é Deus, tem um ardor enorme de poder contemplá-Lo na outra e, por isso, está constantemente preocupado em caminhar rumo a essa visão. Mantém os ouvidos atentos para saber por onde vai passar o Filho de Davi e pede-Lhe com insistência a graça de vê-Lo face a face.

Como Bartimeu, enquanto não estivermos no Céu, além de cegos também somos mendigos, em tudo dependentes das “esmolas” que recebemos! De fato, o que conquistamos pelo nosso esforço? Não somos capazes sequer de dizer uma oração com mérito sobrenatural se não for em função dos merecimentos de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Deus toma a iniciativa de encontrar-Se com os cegos

Sacerdote Eterno a interceder por nós a cada momento, como escreve São Paulo em sua epístola, Nosso Senhor toma a iniciativa de passar pelo nosso caminho. De nossa parte, o que é preciso? Simplesmente sacudir a própria indolência e ter a reação de alma de Bartimeu: saltar, ir até Ele e Lhe pedir com toda a confiança que nos ajude. ­Jesus está disposto a descerrar os nossos olhos e santificar-nos.

Dessa maneira, o grande obstáculo para nossa completa transformação somos nós mesmos. Ele, pelo contrário, está constantemente perguntando a cada um de nós: “O que queres que eu te faça?” Basta que digamos: “Senhor, quero ser santo” e o resto Ele providenciará. Essa é a nossa vocação, esse é o nosso destino; não o desprezemos! “Senhor, que eu veja! Que eu Vos veja não só nesta terra com os olhos da fé, mas sobretudo no Céu, onde passarei a eternidade cantando as vossas glórias e agradecendo tudo o que de Vós recebi”. 

Nota

1 Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO. Summa contra gentiles. L.III, c.45, n.5.
Artigo anteriorO amor é a ciência dos Santos
Próximo artigoO inesperado fruto de uma novena
Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP, é fundador dos Arautos do Evangelho.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui