No dia 6 deste mês, a Igreja celebra a festa da Epifania, ou seja, da manifestação divina de Cristo às nações pagãs, representadas pelos Reis Magos.

 

Causou sensação em Jerusalém a chegada de três importantes personagens — Gaspar, Melchior e Baltazar — acompanhados de numeroso séquito e rica equipagem.

São reis? — perguntavam-se os habitantes da grande cidade.

Sim, respondiam uns. Não, mais parecem ser sacerdotes caldeus, opinavam outros. Nada disso, são magos, homens sábios que conhecem os segredos da astronomia, sentenciavam alguns eruditos da época.

Como eram os Reis Magos?

Nos presépios e nas pinturas, são eles apresentados em geral como homens de idade madura, e até mesmo já idosos, às vezes com uma barba branca descendo até o peito, mas todos fortes e resistentes. Segundo a imaginação popular, andam devagar e com ar pensativo, cobertos de ricos mantos, portando coroas com pedras preciosas fulgurantes.

A iconografia corrente apresenta Gaspar e Melchior como sendo de raça branca. O terceiro, Baltazar, um gigante de ébano, é o mais pitoresco dos três. Tem pouca barba, olhos redondos e escuros, bem abertos, lábios rubros e dentes alvos como a neve. Sua fisionomia é a de um homem sério e compenetrado, aberto para a contemplação das coisas maravilhosas, caminho para chegar a Deus.

Os bons presépios nos mostram os Reis Magos chegando em fila, trazendo nas mãos seus presentes. O Menino Jesus, divinamente alegre, está sentado no colo de sua Mãe. Todos olham para Ele, inclusive Nossa Senhora, a qual é apresentada discretamente em segundo plano.

Eram sábios e reis

Na Catena Áurea, São Tomás afirma: “Esses magos eram reis”. E acrescenta que devia ser grande sua comitiva, pois puseram em alvoroço Herodes e Jerusalém inteira. São João Crisóstomo é de opinião de que “esses Reis Magos que vieram do Oriente adorar o Menino Jesus, são os filósofos dos caldeus, homens muito considerados em seu país. Seus reis e príncipes aconselham-se com eles, por causa da sua ciência. Assim é que foram os primeiros a tomar conhecimento do nascimento do Senhor”.

O Evangelho resume nestas curtas frases o objetivo de sua viagem:

— Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer? Vimos sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo.

Segundo São Tomás, eles chegaram a Jerusalém três dias após o nascimento de Jesus, o que levanta uma curiosa questão: como fizeram em tão curto tempo a longa viagem? Antiga tradição do tempo de Moisés fala de um antepassado deles que profetizou o nascimento de uma estrela em Judá. Este era de uma nação vizinha de Israel, situada do lado oriental.

São João Crisóstomo é de opinião oposta, declarando ser possível que eles tenham iniciado a caminhada dois anos antes. Esta opinião encontra fundamento no texto evangélico. Pois Herodes os inquiriu sobre a época em que lhes havia aparecido a estrela e “mandou massacrar em Belém e nos seus arredores todos os meninos de dois anos para baixo, conforme o tempo exato que havia indagado dos Magos” (Mt 2,16).

Informados de que Belém era a terra natal de Jesus, para lá partiram os Magos. E a mesma estrela que os havia guiado de seus países até Jerusalém apareceu-lhes novamente e os foi precedendo até chegar sobre o lugar onde estava o Menino, e ali parou.

Era mesmo uma estrela?

Santos, doutores e teólogos interessaram-se por esta pergunta, pois tudo quanto diz respeito a nosso Salvador é, de si, muito interessante.

A ser uma estrela, era diferente de todas as outras. Pois, ao contrário dos demais astros — os quais, desde a criação do universo, seguem regularmente a órbita fixada para cada um no espaço sideral —, esta percorria um roteiro reduzido e, por assim dizer, terreno. Além do mais, parava e punha-se de novo em movimento segundo as conveniências dos Magos, fazendo-se visível não só à noite, mas também durante o dia.

Isso, comenta São João Crisóstomo, é próprio de um ser inteligente, não de uma estrela comum. De onde deduz ele que “não era simplesmente uma estrela, mas uma virtude invisível tomou a forma de uma estrela”.

Segundo São Remígio, alguns crêem que essa estrela era o Espírito Santo, outros que era um Anjo, talvez o mesmo que apareceu aos pastores perto da Gruta de Belém.

Santo Agostinho opina de modo mais afirmativo: “Era um astro novo, criado para anunciar o parto da Virgem e para oferecer seu ministério, marchando diante dos Magos que procuravam a Cristo e conduzi-los ao lugar onde estava o Verbo, Menino-Deus”.

O fato indiscutível é que a estrela — corpo celeste físico ou não — cumpriu de forma exímia sua missão: levou os Reis Magos até a casa onde estava o Menino Jesus. Informados de que Belém era a terra natal de Jesus, para lá partiram os Magos. E a mesma estrela que os havia guiado de suas terras até Jerusalém apareceu-lhes novamente. Nesta reaparição da estrela, os Magos viram uma confirmação toda divina da informação que tinham recebido. A partir daí, o brilhante astro os foi precedendo até o lugar onde estava o Menino, e ali parou. Entrando na casa, encontraram o Divino Infante com Maria, sua mãe. Prostrando-se diante d’Ele, o adoraram. Depois abriram seus tesouros e lhe ofereceram como presente ouro, incenso e mirra.

“Ninguém procurou e encontrou mais venturosamente a Cristo, que aquele devoto e santo cortejo dos Reis do Oriente. Sumamente alegres, seguiram a estrela até Belém onde acharam o Rei, recém-nascido. Mas, com quem O acharam? Acharam o menino com Maria sua Mãe. Quereis achar Jesus, procurai-O onde estiver sua Mãe, e O achareis!” (Pe.Vieira)

As relíquias dos Reis Magos são veneradas no altar-mor da catedral de Colônia, Alemanha

Três dons simbólicos

São Tomás apresenta uma bela interpretação desse fato: “Quando se diz que ofereceram ao Menino-Deus três dons — ouro, incenso e mirra — não significa que eram apenas três, mas que neles estavam representadas todas as nações descendentes dos três filhos de Noé, que haviam de ser chamadas à Fé”.

Também Santo Agostinho tece elevados comentários na mesma linha. Epifania, ensina ele, é uma palavra grega que significa “manifestação”. Na pessoa dos Reis Magos, o Menino-Deus se revelou a todas as nações que, no futuro, seriam iluminadas pela luz da Fé. “Toda a Igreja dos Gentios quis que esse dia fosse celebrado com a máxima devoção, pois, que são os Magos senão as primícias da gentilidade?” — conclui o Bispo de Hipona.

E o Papa São Leão Magno dá esta outra interpretação do significado dos presentes dos reis: “Os Magos realizam, pois, o seu desejo, e guiados pela mesma estrela, chegam até o menino, o Senhor Jesus Cristo. Adoram o Verbo na carne, a Sabedoria na infância, a Força na fraqueza, e o Senhor de majestade na realidade de um homem. E para apresentarem uma homenagem de sua fé e de sua compreensão, testemunham, por meio de dons, aquilo que crêem em seus corações. Oferecem incenso ao Deus, mirra ao homem e ouro ao rei, venerando conscientemente na unidade a natureza divina e a natureza humana”.

 

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